Por que "clepsidro-me"?!?!

Leia a primeira postagem e descubra!!! (clique aqui)







quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Milagrário Pessoal


Ontem acabei de ler o tão esperado Milagrário Pessoal, do Agualusa.

Hoje tive vontade de começar a releitura; só não o fiz porque preciso entregar o livro à minha irmã, pra que ela faça a dedicatória no presente.

Mas assim que o receber de volta, vou reler!! Nem preciso dizer que adorei!!

Vou transcrever uma pequena parte do livro, na verdade sua epígrafe, que é fundamental à história.

Não escolhi essa parte por ser a que mais gostei. Se esse fosse o critério, creio que pelo menos 70% do livro teria que ser transcrito!
Escolhi esse trecho porque adorei a ideia de que herdamos nossa língua dos pássaros!! Me parece tão subversivo e absolutamente poético, afinal o canto das aves é belíssimo e sempre nos encanta!! E essa ideia me encantou!!

Não entendeu? Então, leia a epígrafe do Agualusa e, se possível, o livro também:


"No princípio os homens não falavam. Nenhum animal falava, exceto os pássaros. Havia um saco com palavras que estava à guarda da Andua*. Foi então que apareceu um rapaz com um único braço, uma única perna e só metade da cabeça. O rapaz roubou o saco das palavras, abriu o saco e meteu as palavras à boca. Na manhã seguinte, quando despertou, era uma pessoa inteira, mas metade rapaz e metade rapariga. Além disso falava, e sua língua era ágil e harmoniosa como a dos pássaros." (De um conto tradicional ovimbundo**, em Seleção de contos, provérbios e adivinhas em umbundo***, de Jeremias Capitango)


* andua - ave azul, semelhante ao papagaio

** ovimbundo - povo que vive ao sul de Cuanza, sobretudo no planalto de Benguela, em Angola.

*** umbundo - língua falada pelos ovimbundos

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Turbinada


Segunda-feira passada, minha irmã me apresentou a um novo CD do Zeca Baleiro - Trilhas: música para cinema e dança.

Acho o Zeca genial, simpático, super bem humorado e de uma sensibilidade incontestável. Sempre presto atenção às letras dele. Já tinha ouvido umas músicas desse CD no rádio, mas me diverti muitíssimo com uma que ouvi naquele dia. Ei-la:


Turbinada

Ela fez dezessete pequenos reparos
No lóbulo da orelha
Extraiu as rugas pés-de-galinha
Que a deixavam mais velha
Ela botou botox sorriso inox
Que eu paguei em doze suaves prestações
250 ml de silicone em cada peito
Ficaram no jeito dois belos melões

Tirou um par de indesejáveis costelas
Ficou com a cintura fina cinturinha de pilão
Malha como louca não marca touca
Ela tá sarada turbinada processada envenenada
Um mulherão

Ela ficou uma máquina
Ela ficou uma máquina
Mas tudo que eu queria tudo que eu queria
Tudo que eu queria mesmo era uma mulher

Ela fez lipo agora faz tipo
Desfila com suas nádegas durinhas no calçadão
Ela fez peeling e só tem feeling
Pras coisas que podem deixá-la mais bela magrela
Cinderela sem paixão



Frutinha vermelha


Quando eu tinha uns 3 ou 4 anos, falei pra minha mãe que eu estava com vontade de comer uma frutinha vermelha (eu até hoje sou cheia das vontades de comer isso ou aquilo!).

Mamãe, zelosa como sempre, pediu mais informações pra saber que frutinha era aquela.

- Ah, mamãe, é um frutinha pequena assim ó, vermelhinha...

Como isso não dizia muito, ela foi por tentativa e erro. Trouxe primeiro morango, a mais óbvia, mas não era.

Depois vieram: ameixa, framboesa, amora, cereja, até uva e figo, que nem são assim tão vermelhas.

Eu me esbaldava com todas, mas continuava com a vontade da tal frutinha vermelha.

Mamãe sempre pedia ao feirante, nosso amigo: se você encontrar uma fruta vermelha e pequena, traga pra mim, por favor.

Sei que meses se passaram em busca da fruta perdida, mas tudo em vão.

Até que todos esqueram da história. Todos, menos eu! Meus desejos são teimosos, não vão embora enquanto não são saciados.

Num belo dia, estava a pé, indo não sei onde com minha mãe, quando falei:

- Olha lá a frutinha vermelha!!

Minha mãe não entendeu nada, devia estar preocupada com os afazeres do dia:

- O quê??

- É aquela frutinha que eu quero! - disse, apontando para um pé de romã.
- Mas ela não é vermelha!! Você disse que era vermelhinha!!
- É vermelha, sim, mãe!! Por dentro é bem vermelhinha!!!

Minha mãe, resignada, tocou a campainha da casa e meio constrangida pediu uma romã, que eu comi como se tivesse vindo direto do Olimpo!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010



madrugada
a rede balança
e no seu embalo, meu desejo

dança harmoniosa
de corpos cadenciados

a luz da lua,
única testemunha
da doce e incessante agitação

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Leminski, again and forever

Esses dias estava relendo o Leminski.
Eis os meus preferidos daquele dia (pois isso muda conforme meu humor):

dia
dai-me a sabedoria de caetano
nunca ler jornais
a loucura de gláuber
tem sempre uma cabeça cortada a mais
a fúria de décio
nunca fazer versinhos normais

(eu pediria também a criatividade de leminski...)

¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬


coração
PRA CIMA
escrito embaixo
FRÁGIL


¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬


a noite
me pinga uma estrela no olho
e passa


¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬


não discuto
com o destino

o que pintar
eu assino

¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬


acordei bemol
tudo estava sustenido

sol fazia
só não fazia sentido


¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬

a estrela cadente
me caiu ainda quente
na palma da mão


¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬


Transar bem todas as ondas
a Papai do Céu pertence,
fazer luas redondas
ou me nascer paranaense.
A nós, gente, só foi dada
essa maldita capacidade,
transformar amor em nada.


¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬


o amor, esse sufoco,
agora há pouco era muito,
agora, apenas um sopro

ah, troço louco,
corações trocando rosas,
e socos

Mario Vargas Llhosa

Ao receber o Prêmio Nobel, há uns 10 dias, o escritor Mario Vargas Lhosa fez um belíssimo discurso. Dois trechos em particular me emocionaram:

[...]
"Pude dedicar boa parte do meu tempo a essa paixão, vício e maravilha, que é escrever, criar uma vida paralela onde nos refugiamos contra a adversidade, que torna natural o extraordinário e o extraordinário natural, que dissipa o caos, embeleza o feio, eterniza o instante e torna a morte um espetáculo passageiro"
[...]
"A exemplo de escrever, ler é protestar contra a insuficiência da vida. Quem procura na ficção o que não tem, diz, sem necessidade de dizer, e nem de saber, que a vida tal como é não nos basta"
[...]

Sempre achei que uma vida só não basta pra fazer tudo que eu quero! Talvez por isso leia compulsivamente: uma tentativa de viver compulsivamente!!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Shirley Valentine

Essa semana assiste a dois filmes, um deles foi Shirley Valentine.
Adorei a versão cinematográfica da peça de Willy Russell, dirigida por Lewis Gilbert e protagonizada por Pauline Collins.
O filme não é novo, é de 1989, mas proporciona uma visão bem atual do ser humano e das relações familiares.
Eis algumas falas:

"Por que ter toda uma vida, se não fazemos proveito dela? Por que todos esses sentimentos e sonhos e esperanças, se nunca os usamos?"

"Sonhos. Eles nunca estão onde você espera encontrá-los"

"Eu não me apaixonei por ele. Me apaixonei pela ideia de viver"

A paixão pela vida tem que ser constantemente renovada, senão corre o risco de morrer, como nos lembra Shirley Valentine.

Estou quase terminando o segundo livro da coleção "Histórias de Canções", sobre o Toquinho (o primeiro foi sobre o Chico).

Nem precisa lembrar que ele tem músicas belíssimas. É muito interessante saber como essas canções foram compostas, quais as histórias dos bastidores.

Você sabia, por exemplo, que a letra da famosa "Aquarela" foi composta originalmente em italiano por Guido Morra e depois "traduzida" para o português por Toquinho? Nem eu!!!

Entre muitas outras perólas, o livro traz uma parceria do Toquinho com o Vinícius que achei particularmente bonita, e, ao que me parece, um pouco desconhecida.

Nela os papéis usuais são invertidos: o Vinícius fez a música e não houve tempo de fazer a letra. Toquinho, então, ficou com a tarefa e deu uma de poeta.

Ei-la:


Deixa acontecer


Ah, não tente explicar

Nem se desculpar

Nem tente esconder.

Se vem do coração,

Não tem jeito, não,

Deixa acontecer.

O amor é essa força incontida,

Desarruma a cama e a vida,

Nos fere, maltrata e seduz.

É feito estrela cadente

Que risca o caminho da gente,

Nos enche de graça e de luz.

Vai debochar da dor

Sem nenhum pudor

Nem medo qualquer.

Ah, sendo amor,

Seja como for

E o que Deus quiser.

negros cachos
negros olhos
negro toque

quero me perder na doce escuridão

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Truffaut




" As pernas das mulheres são compassos que percorrem o globo terrestre
em todos os sentidos, dando-lhe equilíbrio e harmonia"


(do filme O homem que amava as mulheres, de Truffaut)
.
.
.
Não quero me apaixonar por você
.
[...]
.
Porra, por que a paixão é tão voluntariosa?!?!
.
.
.

terça-feira, 23 de novembro de 2010


Pessoa, me empresta seus óculos e seu chapéu?
Quem sabe assim, posso ver o mundo por outros olhos e
ter ideias próprias......... de um poeta de verdade!!
eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
PS: foto minha, no Museu da Língua Portuguesa

Poemas de Fernando Pessoa - Museu da Língua Portuguesa





Ontem, a noite
estava rindo para mim
(ou ria de mim?!?!)

Seu riso era como
o do gato Cheshire -
de soslaio, debochado,
quase um desafio:
decifra-me ou devoro-te.

E eu ali,
a contemplar
aquele sorriso
ávido por me tragar.

terça-feira, 16 de novembro de 2010


como menino crescido
que vê o mar pela primeira vez
você se encanta

molhado de sal
se aquece ao sol tímido
que mais parece de outono

após o mergulho,
se deita para fazer uma espécie de fotossíntese metafísica -
o sol alimenta sua alma

sob o sol,
seu beijos ficam mais quentes

Mais Manoel de Barros

Do livro "Memórias inventadas para crianças"

"Uso as palavras para compor meus silêncios"

"Sou um apanhador de desperdícios"

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Acabei de "acabar" o livro O vendedor de passados, do J. E. Agualusa (minha febre africana voltou!! desconfio que só vai passar quando ler o Milagrário Pessoal!! rsrsrs)

Essa é uma história interessante de um homem que vende passados e tem por companhia uma lúcida lagartixa, que faz excelentes observações sobre a realidade (ou sobre o sonho?).

Lá pelas tantas, me deparo com a seguinte frase: "A felicidade é quase sempre uma irresponsabilidade" (de novo o tema da felicidade... adoro essa perseguição! rsrsrs)


Concordo com ela, em determinadas situações da vida optar pela felicidade pode ser confundido com uma atitude irresponsável. Contudo, creio que essa é, invariavelmente, a melhor opção, ainda que não pareça muito sensata.

Quem instituiu que felicidade e sensatez são inseparáveis?!?!!?!?

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Felicidade


Um tema tem me perseguido ultimamente: felicidade. Bom, né?!
Eu estou lendo um livro, que não é nem um pouco leve, e lá está ela.
Ligo o rádio e toca uma música com esse tema.
Abro outro livro e lá vem ela de novo........
Acho que é porque nesses últimos tempos estou me sentindo muito feliz, não exatamente alegre (apesar da alegria estar sempre me rondando, feito gato que quer carinho...), mas tenho me apercebido da felicidade com muita constância.
Sempre achei que alegria e felicidade eram coisas distintas. Embora a alegria possa ser companheira da felicidade, esta pode muito bem viver sem aquela.
Pra que me entendam melhor, recorro ao Agualusa (de novo ele...), que explica bem essa diferença:

"Há quem confunda a alegria com felicidade. A alegria não se parece com a felicidade, a não ser na medida em que um mar agitado se parece com um mar plácido. A água é a mesma, apenas isso. A alegria resulta de um entorpecimento do espírito, a felicidade, de uma iluminação momentânea. O álcool pode nos levar à alegria - ou um cigarro de liamba, ou um novo amor, porque nos obscurece temporariamente a inteligência. (...) A felicidade é outra coisa. Não ri às gargalhadas. Não se anuncia com fogo de artifício. Não faz estremecer estádios. Raras são as vezes em que nos apercebemos da felicidade no instante em que somos felizes." (Barroco tropical)

Sempre achei que a felicidade era um estado de espírito e a alegria, um contentamento por algo que aconteceu. Por isso, na minha opinão, a gente pode escolher entre ser feliz ou não, independentemente do mundo exterior, do que está acontecendo à nossa volta (claro, guardadas as devidas proporções).
Eu, de minha parte, sempre procuro optar pela felicidade, mesmo quando o céu não está assim tão azul. E aproveito cada momento de alegria também!! Assim, vou fazendo um estoque pros dias nublados!!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Elucidário


Barroco Tropical - esse é o título do mais recente livro do Agualusa publicado no Brasil. Estou lendo-o, enquanto aguardo a publicação do Milagrário Pessoal.

Tem uma parte que fiquei com vontade de postar aqui porque eu já disse isso de outra forma.

Aí estão as palavras do Agualusa, na voz de Kianda, uma das personagens de Barroco Tropical:


"Escrevo para iluminar os corredores da minha alma. Bartolomeu iria crucificar-me por causa dessa frase (...) Quero que se dane! Sou assim mesmo. Além disso, é verdade: conheço bem a luz que dorme em certas palavras, a noite que se esconde noutras. Há metáforas que deflagram como granadas, estrofes capazes de abrir clarões à nossa frente. (...) Quando sinto-me perdida, sento-me e escrevo. Quando sinto-me irremediavelmente perdida, canto.

Canto para me salvar.

O que escrevo? Registro o que me acontece, num esforço para compreender o que aconteceu. Não invento nada. Não preciso de inventar nada. Não sou ecritora. Podia chamar a isto um diário cego, porque não tem datas. Prefiro chamar-lhe um elucidário"

Pois é, Kianda, também eu, quando estou perdida, ponho-me a escrever. Contudo, como não tenho a voz aveludada que tens (portanto não posso cantar), quando estou irremediavelmente perdida, invento histórias. Não sou escritora, mas invento histórias e também me alimento de histórias alheias, como a tua.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Pôr-do-sol

o sol se põe
como sua mão se põe em meu ombro
como o desejo se põe em nós
como o beijo, vermelho tal o entardecer, se põe em meus lábios

depois vem o frio,
o vento gelado de outono
espanta os espectadores,
mas não nos espanta
ficamos deitados na grama
os corpos colados, aquecendo um ao outro

a praça, agora vazia e silenciosa
como a noite que se anuncia,
nos convida a permanecer
nesta delicada contemplação

E nós, adolescentes despreocupados,
nos quedamos no entreato do inquieto cotidiano

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Um pouco do Manoel de Barros


Todos os seis poemas abaixo foram tirados do "Menino do mato", último livro do Manoel de Barros, que me serviu de antidepressivo dia desses.

"Invento para me conhecer."

"Para cantar é preciso perder o interesse em informar."

"Escrever o que não acontece é tarefa da poesia."

"Eu sempre guardei nas palavras o meu desconcerto."
(esse blog é pra guardar meus "concertos" e desconcertos!!)

"Ele sabia que as coisas inúteis e os
homens inúteis
se guardam no abandono.
Os homens no seu prórpio abandono.
E as coisas inúteis ficam para a poesia."
(ah, poeta, como preciso dessa inutilidade!!)

"Eu queria fazer parte das árvores como os
pássaros fazem.
Eu queria fazer parte do orvalho como as
pedras fazem.
Eu não queria significar.
porque significar limita a imaginação.
e com pouca imaginação eu não poderia
fazer parte de uma árvore.
Como os pássaros fazem.
Então a razão me falou: o homem não
pode fazer parte do orvalho como as pedras
fazem.
Porque o homem não se transfigura senão
pelas palavras.
E era isso mesmo."

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O ser humano

Ontem, fiquei bem melancólica pensando na qualidade do ser humano.
Tive uma conversa com um amigo (será que posso chamá-lo assim? não sei como nomeá-lo, pois é muito mais que um conhecido e, ao menos pra mim, está bem perto da amizade o prazer que sinto em conversar com ele. existe amigo de mão única? se existe, talvez esse seja o caso. se bem que desconfio que a amizade não floresce plenamente por pura falta de oportunidade. nunca conversei com ele a esse respeito, aliás nunca pensei sobre isso - apenas senti assim. será pretensão minha? se for, peço desculpas), e nessa conversa ele me contou algumas coisas do seu trabalho, que envolve pessoas das quais gosto e pelas quais tenho uma profunda admiração.
Resumindo, o caso é o seguinte: ao trocar a chefia do lugar onde ele trabalha, o novo chefe despediu as pessoas próximas do antigo chefe, assim sem mais nem por quê! Pessoas de uma competência inquestionável!
Esse caso, particularmente, me supreendeu porque na minha inocência eu achava que os chefes - o novo e o antigo - eram amigos. Pelo que se sucedeu, acho que não era bem assim.
Você já viu isso em algum lugar? Pois é, ambos - meu amigo e eu - já vimos e por isso começamos a falar quão decepcionante podem ser as atitudes das pessoas.
Ando bem desiludida com a qualidade do ser humano, pois às vezes podemos ser extremamente egoístas, soberbos, dissimulados, ambiciosos, inescrupulosos etc, etc, etc...
Fiquei realmente melancólica com nossas divagações, e a tarde, que estava ensolarada, ficou meio cinzenta para mim.
Sabe, devo confessar uma coisa: eu teimo em querer confiar no ser humano e, talvez o pior de tudo, eu gosto dessa teimosia.
Quando me despedi do meu amigo, fui encontrar-me com minha irmã. Entrei no carro e liguei o rádio, como de costume.
A música ajudou a "desacinzentar" a tarde, que voltou a ficar ensolarada quando encontrei minha irmã, que tem um brilho de sol.
Entre outras coisas, fomos à Livraria Cultura. No meio dos livros, lendo um trecho de um e de outro volume, trocando impressões com minha irmã, percebendo o entusiasmo de meu sobrinho pela leitura (hilária a negociação dele pra ganhar mais livros do que o combinado!), conversando com os excelentes vendedores/leitores de lá, o dia voltou a brilhar dentro de mim.
Claro que não resisti e sai de lá com dois livros de poesias do Manoel de Barros, um menino de 94 anos. Um dos livros é "Memórias inventadas para crianças" e o outro, "Menino do mato" , que já devorei.
Tudo isso me lembrou a música "Paratodos", do Chico Buarque, em que ele diz:
"Contra fel, moléstia, crime
Use Dorival Caymmi
Vá de Jackson do Pandeiro
...
Fume Ari, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho
Para um coração mesquinho
Contra solidão agreste
Luiz Gonzaga é tiro certo
Pixinguinha é inconteste
Tome Noel, Cartola, Orestes
Caetano e João Gilberto"

E eu acrescento:
Para melancolia, não existe nada melhor que poesia, seja cantada ou escrita!!
Obrigada, queridos médicos, poetas, cantores, cirurgiões!!!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A insustentável leveza de ser

Ontem revi o filme do Phillip Kaufman, baseado no romance do Kundera - A insustentável leveza de ser, que já havia mencionado aqui.
Tinha me esquecido como é bonito!! Novamente me emocionei com o filme!!
Enquanto assistia, algumas palavras e imagens flutuavam entre mim e a tela:

confiança


sensualidade
força bruta
amor
política
DDDDDDDDDDDDDddddddddddddddddddddddddddddddddDDDD felicidade
liberdade sssssssssssssssssssss sofrimento
leveza eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeescolhas


prazer
SSSSSSSSSSSSSSSSSS sonho
dddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddd desejo


primavera de Praga (e tudo o que isso implica)
beleza
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr repressão


covardia
luta
o "meu chapéu"!!




PS: se você não entendeu o "meu chapéu", leia a postagem sobre o Kundera.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Trilha sonora


Ontem, pouco antes de sair do trabalho, recebi um grato e surpreendente telefonema e, na sequencia, fiz um que muito me agradou.
Envolta nos pensamentos sobre os telefonemas, entre os quais não havia ligação nenhuma, caminhava para o carro, que me levaria de volta pra casa, depois de mais um dia árido no trabalho.

Entrei no carro e liguei o rádio, automaticamente. Entretanto, a música logo me tirou do automático.

Quando começou, a canção se entrelaçou aos pensamentos "já pensados" e impôs outros novos, "impensados": pensei que se eu estivesse num filme, essa seria a hora de soltar a trilha.
(Vocês certamente já repararam que em praticamente toda cena de filme tem uma música? Se o mesmo acontecesse na vida real, seria insuportável, ao menos pra mim que gosto muito de ouvir o silêncio)

Ri de meus pensamentos - constantemente meus pensamentos tiram risos marotos de minha boca - e entrei no jogo cinematográfico.

A música que estava tocando, por puro acaso, poderia muito bem servir de trilha para o telefonema que havia acabado de dar. Quase todos os seus versos se encaixavam na relação que tinha com o meu interlocutor.

Eu ainda pensava na coincidência entre a arte e a vida, quando desconfiei que o DJ da rádio estava brincando comigo (ou seria o "destino" me mandando um recado?): a próxima música também serviria de fundo musical, mas dessa vez para o telefonema que havia recebido.

Quais eram as músicas? Por ironia, eram músicas de cantores que não me agradam muito: Vander Lee, com "Fui", e Ivete Sangalo, com "Quando a chuva passar".
É, a vida é mesmo surpreendente!!




quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Kundera



Ontem à noite, iniciei a leitura do "A valsa dos adeuses", do escritor tcheco Milan Kundera.


Conheci o Kundera pelo cinema: no final da década de 80 assisti à adaptação do seu livro "A insustentável leveza do ser", com o Daniel Day-Lewis, Juliette Binoche e Lena Olin. Me apaixonei pela história e por esses personagens e então li esse e outros livros dele.


Lembro bem de uma cena do filme em que dois personagens brincavam com um chapéu. Além de linda, sensual e delicadíssima, a cena trazia um chapéu exatamente igual ao que havia acabado de ganhar de presente para integrar-se à minha, então tímida, coleção de chapéus.


Filme especial, presente especialíssimo de alguém muito amado. O presente, de tão lindo, foi roubado em uma festa por pura distração minha, mas a pessoa que mo deu ainda permanece intacta em meus sentimentos.


No livro que estou lendo agora, encontrei uma frase que me surpreendeu pela obviedade e, simultaneamente, pelo inusitado (aliás com o Kundera esse sentimento é recorrente). Aí vai ela:


"O ciúme possui o poder espantoso de iluminar o ser amado com raios intensos e de manter a multidão dos outros homens numa total obscuridade."

Aliás, no filme isso é muito verdadeiro no comportamento da personagem Tereza, que ilumina Thomaz com sua insistência em tê-lo por completo (o que para ela requer exclusividade).

A leveza de Thomaz pesa para ela - para ele a vida é um grande entretenimento. Talvez daí venha seu charme...

PS:

1) Essa frase me faz pensar onde colocamos nossa luz.
2) A cena final do filme ficou indelével em minha memória. Acho que vou rever esse filme, me deu uma nostalgia...
3) O chapéu era igual a esse da foto.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tatit


Faz uns meses comprei um CD do Luiz Tatit. Eu gosto muito desse Tatit - digo "desse" porque é uma família de gente com talento, tem o Paulo, tem o Jonas, ambos envolvidos no Palavra Cantada/Tocada.

O Luiz Tatit foi meu professor na faculdade e desde aquela época sou apaixonada pelo trabalho dele, além de um professor super competente - consegue explicar coisas complicadas de uma maneira simples e interessante -, é um músico criativo. Foi fundador do extinto Grupo Rumo, um dos mais interessantes que conheci, com letras acuradas.

Aliás a palavra sempre foi o forte de Tatit, por isso vou postar aqui, como homenagem, duas letras bem criativas do seu mais recente CD "Sem destino".

A primeira é a que dá nome ao disco:

"Tudo que era o meu destino
Na verdade nunca me aconteceu
Pode ter acontecido
Pra alguma pessoa
Mas não era eu
Vivo assim na vida sem previsão
Todo mundo tem destino, eu não
Nunca os fatos são de fato fatais
Não confio na fortuna jamais
Puro acaso e nada mais

Tudo que já estava escrito
No meu caso nunca se concretizou
Só talvez o aniversário
Que é na mesma data
E não se aterou
Era pra eu já ter encontrado um amor
Era pra eu já ter esquecido o anterior
Era pra eu já ter aprendido a sonhar
Era pra eu correr o mundo e voltar
Mas viagem sem destino, não dá

Quero minha sina
Quero minha sorte
Quero meu destino
Quero ter um norte
Quero ouvir uma vidente
Que me conte tudo
Só esconda a morte
Quero uma cereza mínima
Que se confirme
Que não seja trote
Por não ter o meu destino
Vivo em desatino
Como D. Quixote

Quem não tem o seu destino
Chega a noite
Pensa que tudo acabou
Se levanta muito cedo
Nunca sabe bem
Por que levantou
Nada tem urgência para cumprir
Pode virar do outro lado e dormir
Pode ficar nessa até o entardecer
Todos os amigos vão entender
Levantar sem ter destino
Pra quê?

Ser assim tão sem destino
Me preocupa muito
Me deixa infeliz
Sempre quis o meu destino
Foi o meu destino
Que nunca me quis
Mesmo algum sucesso que ele
previu
Era pra me revelar, desistiu
Acho que ele foi atrás de outro
alguém
Pois destino tem destino também
E só revela aquilo que lhe convém.


A segunda canção, chama-se "Dia sim, dia não":

Quem amou
Dia sim dia não
Só amou à prestação
Na indecisão
Teve carinho
mas nunca teve carinhão
Que é uma ternura imensa
Que pega ponta do seu pé
E vai ao topo da cabeça
É um caminhão de cafunés

Quem chorou
Dia sim dia não
Dividindo a aflição
Com a razão
Chorava menos
Mas foi chorando até o verão
Quando o prazer aumenta
Quando é melhor se animar
Pois se chora ninguém aguenta
Despeja as lágrimas no mar

Quem sofreu
Dia sim dia não
Só sofreu uma fração
Uma porção
Melancolia
Mas que virou satisfação
Mas que virou melancolia
É pra testar o coração
No desalento e na alegria
É o tiquetaque da emoção

Dia sim dia não
Um adianta, outro atrasa
A evolução
E a solução
Dia sim dia não
Um machuca, outro sopra
E fica bom
Ou quase bom
Vai se abrir, se fechar
Vai sorrir, soluçar
Vai a vida vai e volta:
Amar, chorar, sofrer

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Poeminha erótico

corpo bronzeado
cabelo penteado pelo vento
mãos audaciosas
boca atrevida
membro imponente

força e delicadeza em harmonia

quinta-feira, 7 de outubro de 2010


Sou como a concha que
mesmo desabitada
guarda o barulho do mar.

Tudo o que vivo
vai formando em mim uma sinfonia,
escrita na partitura, que é minha vida.

Ás vezes, a música é suave e doce, seguindo allegro
ou allegro ma non troppo ou ainda allegro molto

Outras é forte como um trovão,
como o peso de uma tempestade desabando
Prestissimo!


Às vezes, a orquestra se sai muito bem,
tudo muito harmonioso...

Outras é uma desafinação só.

O que me consola é que os desafinados também tem um coração,
que, no meu caso, é o regente dessa orquestra.

Os sons que preservo, sejam alegres ou tristes, são sempre belos...
Aqueles que não guardam beleza são apagados da partitura.


Foto: Adriana Cardoso

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Férias



As férias acabaram de acabar e eu já estou querendo mais!!!!! Certo está um amigo, ao me chamar de gulosa!!

Gulodices à parte, minhas férias foram ótimas! Além de rever os queridos amigos cariocas, conheci quatro cidades do Piauí (Piripiri, Pedro II, Parnaíba e Luís Correa) e uma do Ceará (Jericoacoara).

Os lugares são lindos, com paisagens deslumbrantes e pessoas super acolhedoras. Fiz algumas amizades nesse período que, creio, ficarão para sempre.

Visitei dois parques nacionais completamente diferentes: o das Sete Cidades e o de Jeri. Ambos de uma beleza cativante.

Descobri que além do Brasil, a lapidação da opala só é feita na Austrália e mesmo assim as pedras não têm a mesma qualidade que as nossas. (Morri de vontade de comprar um mooonte de opalas!!! Mas contive meu ímpeto consumista! rsrs)

Visitei o Delta do Rio Parnaíba, uma formação rara que só existe em três países: Brasil (no Piauí), Vietnã (Rio Mekong) e Egito (Rio Nilo). Num dos cincos braços do Parnaíba, vi até jacaré!!

Me encantei com a fragilidade de um cavalo marinho grávido (isso mesmo, nessa espécie são os machos que ficam grávidos e cuidam dos filhotes! Interessante, não?!?)

Fiquei intrigada com as inscrições rupestres - nunca havia visto tantas e tão diversas!!

Comi muuuito peixe e caranguejo e matei a vontade de patinhas de caranguejo, que adoroooo!!
Me apaixonei pela sapoti, fruta da região com um sabor leve e adocicado. Hummm, pena que aqui não tem!! (Vou procurar no mercado central, não é possivel que não ache!!).

Conferi o rico artesanato local - com bolsas de palha de carnaúba, entalhes em madeira, renda de bilro, trabalhos de pintura...

Nadei em lagoas de águas límpidas e refrescantes.

Presenciei algumas vezes o sol se pondo de uma forma tão arrebatadoramente linda que me comovi.
Enquanto o sol se punha, sempre agradecia a Deus pela vida, pela infinita beleza que há no mundo e pela oportunidade de viajar pra lugares tão sensacionais.
PS: A foto é minha e foi tirada na Praia do Atalaia, em Luís Correa/PI


Mulheres

Acabei no fim de semana o último volume da trilogia de Stieg Larsson - A rainha do castelo de ar.
Li os três volumes em cerca de 15 dias, isso porque estive viajando e o último volume não estava na bagagem. Certamente teria lido tudo em uma semana, se os livros estivessem ao meu alcance. Dá pra ter uma ideia de como fui "fisgada" pelo texto de Larsson, se considerarmos que ao todo a trilogia deve ter umas duas mil páginas.
Pelo que andei pesquisando, o autor planejava outros livros para a série Millenium. Pena que não houve tempo suficiente pra mais estórias - ele morreu pouco depois do primeiro livro ser publicado. Talvez haja um quarto livro, já que ele deixou um texto inacabado, que poderia ser finalizado por sua esposa, envolvida no processo.
O que me chamou a atenção, agora que acabei o último livro, é que as personagens mais fortes são mulheres. Além da já conhecida Lisbeth Salander, outras mulheres mostraram sua força: a editora Erika Berger, as policias Rosa e Sonja, a agente Linder e a advogada Anika. O livro é movido pela força e inteligência dessas mulheres.
Claro, tudo muito bem orquestrado por um homem: o genial Stieg Larsson.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sequestro

Esses dias fui sequestrada. O nome dos sequestradores: Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander.
Esses são os personagens centrais do romance "Os homens que não amavam as mulheres", do sueco Stieg Larsson.
Comecei a ler o livro tão depretenciosa quanto ingenuamente e não pude mais largá-lo. Esses dias, por volta das oito da noite, retomei a leitura, que estava lá pela página 260 (são mais ou menos 520 páginas) e não parei até que terminasse o livro - isso já era duas e meia da manhã! - pois eu PRECISAVA saber o que ia acontecer!
Adorei esses personagens, eles são originais e bem construídos (acho que as "pontas soltas" das personagens vão se resolver no próximo livro). A prosa de Larsson flui, sua linguagem é espontânea e atual. É verdade que o tema é bem violento, mas o leitor fica preso na rede de informações e tenta a todo custo montar o "quebra-cabeça" do enredo. Tentativa inútil, pois o livro é surpreendente.
Já havia sido sequestrada outras vezes, as duas mais recentes pelo Miguel Sousa Tavares, com seu "Equador" e pelo Agualusa, com seu apaixonante "As mulheres de meu pai". Mas nenhuma com tanta força como dessa vez.
Acho que fiquei com a "sindrome de Estocomo" (segundo os psicólogos, ela se dá quando o sequestrado se apaixona pelo sequestrador), pois assim que terminei o livro, encomendei os dois outros que compõem a trilogia Millennium. Acho que realmente me apaixonei pelo jornalista e pela hacker de Estocomo!!
Faltam pouco menos de 200 páginas para terminar o segundo volume e já me arrependo de não ter trazido na viagem o terceiro!!!
Bem, terei que esperar pra saber como termina essa saga. Será que aguento?!?!?!

PS: Foi lançado recentemente um filme baseado no primeiro volume da série, contudo eu não tenho a menor intenção de ver, pois os "meus" personagem certamente são bem mais interessantes que os do diretor do filme. Mas fica ai a dica.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Gullar


Depois de 11 anos de jejum, ontem foi o lançamento do livro "Em alguma parte alguma", do poeta Ferreira Gullar (mais um pra minha lista...).

Na sessão de autógrafos, que foi na Livraria da Travessa, no Rio, ele disse uma coisa com a qual concordo:

"O poeta não acredita na verdade com "V" maiúsculo, ele sabe que o mundo é caótico e não tem explicação, por isso está mais receptivo a apreendê-lo tal como é" .

Na verdade, eu acho que qualquer expressão artística deve ser assim, pois a verdade depende da miopia dos olhos que a veem (vocês lembram do post sobre o poema "A verdade dividida", do Drummond? Se não me engano postei em março do ano passado...)

Ele falou outra coisa que também acontece comigo: "Escrevo para me livrar de uma emoção. Ninguém consegue ficar emocionado o tempo todo".

No meu caso, ao escrever, eu deixo a emoção fluir, portanto me "livro" dela, mas ao mesmo tempo eu capturo-a, como numa fotografia, assim ela passa a me pertencer para sempre...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Os embalos de sábado à noite






Se vocês pensaram que esse post é sobre
o John Travolta ou os anos 70/80,
estão muito enganados.


Na verdade esse texto é sobre uma saborosa e divertida noite de sábado, embalada pelas histórias deliciosas do Mia Couto e do José Eduardo Agualusa (na foto, tirada pela minha mais recente amiga, Ludmilla Jones).




Os dois escritores africanos participaram da Bienal do Livro e eu tive o prazer de ouví-los.



Eu, desde que conheci os livros deles, virei fã incondicional - ano passado passei por uma febre africana, que não havia espaço pra outras culturas na minha estante. Esse ano dei uma variada, por isso ainda não li o último do Agualusa, mas já está na lista e, depois da Bienal, talvez até fure a fila!!





Pelos livros, não podia imaginar quão engraçados eram os dois! Ouvi histórias divertidíssimas.


O Agualusa tem razão ao falar que os africanos salvaram o Brasil da melancolia portuguesa!!



Pra não dizer que tenho preferência por um ou por outro, vou contar uma história de cada! Lá vai, primeiro a do Mia, o poeta que conta histórias.



Ele, que é de Moçambique, diz que quanto menor a cidade, mas sentimentais e calorosas são as despedidas - até parece que não se vai voltar! E não foi diferente quando veio a primeira vez ao Brasil, país sobre o qual os africanos não conhecem muito (assim como nós pouco conhecemos a respeito da África).



Depois das numerosas e intensas despedidas, Mia embarcou para São Paulo. De sua mente não saia a ideia de uma metrópole violenta, na qual estaria exposto a muitos riscos.



Ao chegar no aeroporto, encontrou seu nome escrito numa placa que parecia improvisada. O homem que segurava a placa pareceu-lhe um tipo estranho! Voltou-lhe à mente os perigos da viagem... O estado do veículo que os esperava não tranquilizou nem um pouco o visitante, que já anteviu a tragédia... mas mesmo assim entrou no carro.



Com esses pensamentos na cabeça, percebeu, pelo vidro do carro, a aproximação de um objeto metálico e ouviu uma voz: O senhor quer uma balinha...



Sem saber que "balinha", além de projétil, também significa um tipo de doce, Mia pensou que seria morto pelo assassino mais gentil do planeta!!!



Em uma das inúmeras vezes que esteve no Brasil, o Agualusa teve a seguinte conversa com um taxista:


- De onde o senhor é?
- Sou de Angola - responde o escritor.
- Mas fica em que estado? - retruca o motorista
- Não fica no Brasil. Fica na África.
- Ahhh. Eu queria te parabenizar porque você fala muito bem português!



É realmente impressionante o desconhecimento que temos sobre a África portuguesa e eles sobre nós!! Uma pena, pois a literatura africana lusófona me parece muito rica e seus autores - ao menos os poucos que conheço - são muito instigantes.


Vale a pena ler não só os dois autores citados, mas outros, como o Pepetela, o Manuel Lima, o Rui Duarte de Carvalho (citado com muita emoção no encontro da Bienal), o Ondjaki, entre outros. Muitos estão na minha lista, que engorda dia-a-dia!!



O mais interessante na literatura africana, pra mim, é que ela é muito diversa, assim como o é a África, e por isso mesmo me proporciona várias supresas, não só na linguagem e na língua - que é mesma e é outra -, como na visão de mundo. Cada vez mais me interesso por ela ou por elas, pois como diz o Ondjaki: "porque África são muitas, e várias e tantas".






PS: Claro que a transcrição da conversa entre o Agualusa e o taxista não é literal, é o que minha memória afetiva guardou. Contudo, se você quiser ouvir essa e outras histórias acesse o link abaixo e divirta-se também.



http://www.youtube.com/user/bienaldolivrosp#p/search


Em tempo: Espero que a situação em Maputo - capital de Moçambique - tenha um bom termo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Surf


De uns tempos pra cá ando com umas vontades que nunca tive: começar a correr, conhecer Budapeste, fazer artesanato em peças de madeiras, confeccionar uns colares com retalhos de tecidos, aprender a surfar...

Eu sempre gostei de água, mas nunca tinha cogitado a ideia de surfar! O surf me parece que dá uma adrenalina danada e também um contato diferente com o mar! Além de uma liberdade incrível.

A ideia de liberdade sempre me atraiu - gosto de saber que posso decidir segundo minha vontade, que posso seguir a intuição, que posso experimentar, que posso inventar e reinventar.

Hoje estava lendo um livro, o romance "Amar de olhos abertos", de Jorge Bucay e Silvia Salinas, e me deparei com uma metáfora inusitada, mas com a qual concordo inteiramente:

"Podemos viver a vida como se fôssemos um condutor de metrô, sabendo exatamente aonde ir e como é o caminho. Ou então podemos viver como um surfista, seguindo a onda"

Pra mim essa ideia é fascinante!! Viver cada dia, inventar o seu jeito de fazer as coisas, ver qual onda você pegar, qual você vai deixar passar, sem se preocupar com o "modo certo de se fazer"! Isso é viver intensamente, com curiosidade e criatividade!

No livro também tem a seguinte passagem:

"A vida não consiste em cumprir certos objetivos predefinidos; assim seria muito chata. É diferente se nos propusermos a ver o que acontece e decidir como agir à medida que as situações vão surgindo. Muitas angústias e depressões são geradas porque temos uma ideia predefinida de aonde queremos ir (ou porque compramos a ideia de outros a respeito do aonde nós queremos ir - esse comentário é meu, sorry, não resisti) e, quando o plano não funciona ficamos frustados. (...) A vida é mais suportável se adotamos a atitude do surfista: são as ondas que marcam o caminho, não minha ideia de aonde tenho que chegar. É melhor descobrirmos o caminho conforme as pedras que vamos encontrando"

Isso me lembra uma amiga, que sempre cita os versos de Antonio Macahdo: "Caminante, no hay camino... se hace el camino al andar"

E você, prefere o metrô ou a prancha??














segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Epitáfio (?)

Outro dia aconteceu algo interessante. Estava dirigindo e pouco antes de chegar, à noite, em casa, começou a tocar no rádio a música "Epitáfio", dos Titãs. Fiquei um pouco no carro, ouvindo a música, da qual gosto muito. Fiquei pensando na letra e decidi escrever um texto inspirado nela.
No dia seguinte, ao pegar o carro, advinhe o que estava tocando? Isso mesmo - Epitáfio.
Parece que o texto estava me lembrando que precisava de alguém pra escrevê-lo (os textos têm vida própria, só nos usam para escrever, porque não sabem manusear o lápis nem o teclado!)
Quando cheguei em casa, ao final do dia, fui ver minha irmã. E ela me emprestou uns livros, entre eles um do Mario Sergio Cortella, que foi professor dela e a quem conheci por seu intermédio.
Vocês conhecem o "Não espere pelo epitáfio..."? Ainda não li, mas tenho certeza de que era mais um recado do meu texto pronto pra surgir...
Pois bem, aqui está o texto.
Mas se fui usada para escrevê-lo, devo ter o direito de batizá-lo como bem entendo. E meu texto não se chama epitáfio, pois quero celebrar a vida e a poesia e também a poesia da vida!
Chama Poética, em homenagem ao Vinícius de Moraes, que tem um poema com esse nome e que soube aproveitar a vida.


Poética
Quero amar mais,
E chorar menos,
E nunca sentir raiva,
E perdoar sempre - a mim e aos outros.

Quero ver, muitas e muitas vezes, o sol nascer.
Quero ver, muitas e muitas vezes, a lua brilhar.
E viver cada segundo entre um e outro.

Quero aprender, nem que para isso tenha que errar.
Quero, especialmente, aprender a não me culpar pelos erros.

Quero aceitar as pessoas como elas são,
não quero mais tentar mudá-las.
Quero perceber a dor e a alegria
que cada um carrrega dentro de si e que eu carrego em mim.

Quero fazer o que meu coração mandar
Quero que meu coração se entenda com minha razão.

Creio que Deus vai me proteger
quando coração e mente discordarem.

Creio que Deus vai me proteger
por onde quer que vá.

Quero trabalhar no que me dá prazer.

Quero ver o sol se pôr, seja como for:
no trânsito, da janela do meu trabalho, de um montanha...
Quero ter olhos para ver a beleza onde ela está.

Quero dar aos problemas a dimensão exata que eles têm.
Quero sempre me lembrar que nenhum problema é maior que meu Deus.

Creio que Deus vai me proteger
quando um problema vier.

Creio que Deus vai me proteger
por onde quer que vá.
Ao me envolver, você me torna leve.
No seu silêncio, ouço minha voz mais profunda e discreta.
Perco a noção do tempo, quando mergulho em suas águas mornas,
É como se não existisse nada lá fora.
Só eu e sua calma, que me acalma.

Meu corpo responde aos seus estímulos involuntários.
Ponho-me em movimento
E você os acolhe, embora eles te agitem.

Quando canso, você prepara o leito
Leito calmo como o de um rio suave,
onde correm as águas da vida.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010


Outro dia fui ao shopping comprar um presente de aniversário para uma amiga.

Estava eu saindo satisfeita com o presente, pois havia encontrado um que ela iria gostar (pelo menos era o que supunha), quando um rapaz veio me fazer uma pergunta qualquer.

Respondi e ficamos conversando um pouco. Lá pelas tantas, ele me perguntou:

- Qual sua graça?

Já haviam me feito essa pergunta, desse mesmo jeitinho, mas toda vez me surpeendo e tenho vontade de responder:

- Olha, eu não sei contar piada muito bem, pelo menos ninguém ri com entusiasmo quando eu conto, nem sei malabares ou acrobacias, não faço caretas engraçadas, também não saio por ai vestida de palhaço ou com o rosto pintado... Mas, de vez em quando, faço uns comentários que tiram gargalhadas das pessoas. E você, qual sua graça? Sabe contar piada? Me conta uma?

Claro, que não respondi assim, senão o pobre rapaz não ia ver nenhuma graça nessa brincadeira, mas não sei se me seguro da próxima vez!!

(Será que sou a única que tem esses pensamentos engraçados?!?!)


segunda-feira, 19 de julho de 2010

São Paulo
Paraty
Rio
Olinda
Salvador
Sorocaba
Lençóis
Pipa
Joanópolis
Santos
São Chico
Recife
Pomerode
Floripa
Delfinópolis
Curitiba
Maceió
Carrancas
Sydnei
Ribeirão Preto
Blumenau
Ouro Preto
Campos do Jordão
Ibitipoca

Pedaços de saudades...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Viajar

Pra mim, viajar é uma necessidade tão imperativa quanto respirar! E faz tempo que não viajo!!!
Estou me sentindo meio sem ar!
Não sei onde li, na verdade não sei se li ou se um amigo meu - tb viajante - me disse, que começamos a viagem no momento em que pensamos sobre ela, no momento em que a planejamos. Concordo plenamente!
Se isso for verdade, eu estou constantemente viajando! rsrsrs Mas agora quero tirar os planos da gaveta e pô-los em prática, pois faz intermináveis 6 meses que não saio pra mais de 100 km de distância de casa!
O problema é decidir o roteiro!!! Como dizia meu ex-marido, não há lugar que eu não queira conhecer!! (Na verdade isso é uma injustiça, pois não tenho nenhuma vontade de ir pra Sibéria nem pros países em guerra!! rsrsrs).
Tenho em mente quatro roteiros pras minhas férias, que estão se aproximando!! Todos ligados à natureza, a mato, a cachoeira, a rio....
Quando me decidir conto! Por hora vou ficar aqui, viajando....

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Burn it Blue

Hoje ganhei, de um amigo muito querido, uma música: Burn it blue, composição de Elliot Goldnthal.
E, como forma de agradecer e demonstrar meu afeto por ele, transcrevo um trechinho da canção, que faz parte da trilha premiada do filme sobre a Frida Kahlo, que é um dos meus preferidos.
Quem canta é o Caetano Veloso e a mexicana Lila Downs.
Aí vai um trechinho de uma tradução livre:

"Incendei em azul
Incendei esta casa
Incendei em azul
Coração ficando vazio
Tão perdido sem você
Mas o céu da noite desabrocha com fogo
E a cama em fogo flutua mais alto
E ela está livre pra voar...."

Vale a pena procurar na net e ouvir a interpretação dos dois, no original, em inglês. Emocionante!!!!

Ultimamente ando muito musical. Talvez porque minha vida esteja muito corrida, eu tenho trocado a leitura pela audição - afinal consigo ouvir música e fazer outras coisas ao mesmo tempo!
Uma das minhas recentes descobertas é a Ana Cañas, em especial uma composição do Nando Reis que ela canta. Acho tão bonita a letra e a Ana interpreta de um jeito que combinou.
O verso que fala do rio definitivamente me fisgou, depois dele comecei a prestar muita atenção toda vez que ouvia essa música!
Se bem que a parte da mentira e do cuidar também são ótimas. Nunca havia pensado em mentira como vaidade, mas sempre achei que cuidado tem relação com a alma, com a sensibilidade - ambas invisíveis.

Luz Antiga

Eu só queria que você cuidasse
Um pouco mais de mim como eu cuido de você
Cuidar é simplesmente olhar
Pro mundo que você não vê
Pra medir o amor não existe cálculo
Um mais um pode não ser dois
Futuro é linda paisagem
Desejo que não é sonho é mera ilusão

Se não sabe
Se afaste
De mim
Se ainda cabe
Me abrace
Enfim

Só ligue se tiver vontade
Só venha se quiser me ver
Mentir é pura vaidade
De quem precisa se esconder
Será que eu vejo apenas o que você não vê?
Eu não entendo como você não pode perceber
Que eu não sei mais
Eu não sei mais, eu não sei mais,
Eu não sei mais, eu não sei mais,
Eu não sei

O sangue é o rio que irriga a carne
E a alma é a terra de um morro
E luz antiga no fim da tarde
Essa saudade sem socorro

quinta-feira, 1 de julho de 2010

escoa

No meu coração tem um ralo,
por onde escoam alguns sentimentos
- não são todos,
apenas aqueles que tencionam fugir,
apenas aqueles que penso inúteis,
apenas aqueles que não são irrigados,
por mim ou por outros.

Alguns deles procuro segurar,
mas, líquidos, fogem entre meus dedos.

Outros enxoto,
mas, teimosos, resistem, empoçados no mesmo lugar.

Meu coração é ofurô,
que por vezes transborda.

Mais Leminski

Difícil citar só uma vez o Leminski...

I
"tudo claro
ainda não era o dia
era apenas o raio"

II
"isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além"

Amém, poeta, amém!!!

III
Se
"se
nem
for
terra
se
trans
for
mar"

IV
Para cardíaca
Essa minha secura
essa falta de sentimanto
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.

Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento."

V
Razão de ser
"Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê,
Eu ecrevo apenas.
Tem que ter por quê?"

È, poeta, eu também estou zonza......... por isso esse blog!

Leminski








Estava lendo o Paulo Leminski e
achei esse poema:









"Amor, então,
também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima."

Espero que os sentimentos, sejam positivos ou não, acabem sempre em rima e nunca em raiva. Salve a literatura catártica!!!

terça-feira, 29 de junho de 2010


entre os livros
estavam os dois,
encontro casual
numa noite de outono

a livraria estava cheia
(será que os brasileiros descobriram os livros?)

ele percorria as estantes,
em busca de algo novo para preencher o tempo e a alma

ela procurava alguma coisa
para satisfazer seu ímpeto por novidade

a maior novidade, no entanto, não estava nos livros

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Como prometido, assisti ao jogo num lugar bem barulhento, com direito as vuvuzelas e derivados. Mas mesmo que estivesse em casa, dessa vez não dormiria.
Gostei do jogo. O Brasil jogou melhor, apesar do Michel Bastos ter sumido e o Robinho não ter aparecido muito. Em compensação, o Kaká e o Luiz Fabiano se destacaram.
Nem vou comentar do "braço de Deus" - se o Maradona pode, o L. Fabiano também pode!
E quanto a expulsão do Kaká, eu acho que o Dunga tem uma parcela de culpa.
Não ouvi ninguém falando isso, portanto talvez seja uma bobagem sem par, mas vamos lá, vou dizer o que penso mesmo assim.
Todos sabemos que o Kaká é um jogador importante e que ele já tinha um cartão. Ficou claro também que a Costa do Marfim estava provocando. A má atuação do juiz também era evidente.
Portanto, na minha opinão, o Dunga deveria ter substituído o Kaká antes da expulsão. Pra mim, era claro que os marfinenses iam pra cima dele. Não adiantou esperar o lance polêmico pra querer dar uma de malandro e substituir o jogador às pressas.
Na minha opinião a expulsão foi injusta - mas hoje já ouvi o contrário. Seja como for, ele está fora do jogo contra Portugal. Vamos ver quem o substitui.
Por falar em Portugal, 7 a 0!! Pelo menos não temos que aturar os argentinos se gabando da maior goleada. Mas, cá pra nós, fico com mais raiva ainda do nosso placar contra a Coreia!!

Clarice?

Estava navegando pela net, lendo as notícias do dia, quando me deparei com uma citação, segundo o autor da página virtual, da Clarice Lispector.
Francamente não sei se é dela. Fico sempre desconfiada das referências, especialmente quando não tem o nome do livro, só o do autor.

Como fica difícil de checar, estou vendendo o peixe conforme comprei. Resolvi postar essa citação da Clarice (?) porque ela diz muito do que penso sobre a vida.

"Sonhe com o que você quiser.
Vá onde você queira ir.
Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldade para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança para fazê-la feliz."


Que eu tenha sabedoria e coragem pra fazer tudo isso!!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Receita de Mulher

Prometi postar esse poema do Vinícius de Moraes. Promessa feita; promessa cumprida.
A maioria das pessoas conhece apenas o início do texto, talvez por ser longo. Mas vale a pena lê-lo inteiro.
Eu desconfio que há um tom um pouco irônico nessa poema. Ou esse papo de 5 velas e queimaduras de 1º grau é sério?!?!!? rsrsrs
Quem sabe por isso é um dos meus prediletos...
Os versos finais são meus preferidos, quando ele fala do embriagante mel, do canto inaudível, da dançarina do efêmero e da incalculável imperfeição.
Esse belo poema é como a beleza: límpido e misterioso.
Vamos a ele:



"As muito feias que me pedoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa)
Não há meio termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que reflita e desobroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que tudo seja belo e inesperado. É preciso que uma das pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Eluard e que acarecie nuns braços
Alguma coisa além de carne: que se os toque
Como ao âmbar de uma tarde. Ah, deixai dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) e também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas.
Sobremodo pertinez é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É acoselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível um mínimo de produtos farmacêuticos!
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face
Mas que as cavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37º centígrados podendo eventualmente provocar queimaduras
Do 1º grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro da paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que, se fechar os olhos
Ao abrí-los ela não mais estará presente
Com seus sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo Que ela nunca perca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder a graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre o embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda criação inumerável.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Cochilo

Vocês se lembram do post intitulado "Beleza é fundamental"?
Pois é, tenho que retomá-lo pra falar da estreia da seleção na Copa (quando vou me acostumar a não usar mais o acento em estreia?? assim me sinto caquética, sabe aquela história de "na minha época era assim...").
Tenho duas confissões (bem espírito de porco! rsrsrs) a fazer:
1) dormi na metade do primeiro tempo
Aqui cabe um esclarecimento: como gosto de prestar atenção ao jogo, não curto muito assistir em bar, porque é aquela muvuca e fico com vontade mandar todo mundo calar a boca pra eu me concentrar. Então, pelo bem da convivência, fico em casa. Às vezes, me rendo aos amigos e à caipirinha e vou ao boteco, mas quase sempre me arrependo.
Estava eu no sofá, quentinha enrolada no cobertor, tomando um vinhozinho... quando vi tinha perdido uns 10 minutos de jogo. Assumo: cochilei. O jogo estava muito chato, não resisti.
2) vibrei com o gol da Coreia (de novo o tal acento!!)
Vibrar talvez seja exagero, mas bem que gostei dos coreanos terem feito um gol. A nossa seleção estava muito lenta, não conseguia abrir espaço pra atacar, errou muitas finalizações, ficava com aquele irritante toquinho de lado.
Por tudo isso, achei justo o adversário marcar o seu.
Parece que os jogadores brasileiros entram no ritmo do oponente - e todo mundo sabe que os coreanos não têm muito gingado - nem na dança, nem no futebol (eles não estão em último lugar no ranking da Fifa?).

Talvez o maior problema dos "canarinhos" seja esse: não sabem imprimir o próprio ritmo ao jogo. Se jogam com um time que exige, eles respondem; mas se não, deixam o barco correr. Isso me dá nos nervos!!!
Entretanto, tenho que dar o braço a torcer: o Dunga bem que tentou. Gostei das substituições.
Aliás, gostei muito do Michel Bastos - boa movimentação, sempre pra frente, bons passes, boas roubadas de bola.
Espero que a seleção não cochile contra a Costa do Marfim.
Eu, de minha parte, vou assitir ao jogo num bar bem barulhento, só por vias das dúvidas.

PS: E a Espanha, quem diria? Parece que La Furia não anda tão furiosa assim!!!! Será que se pode dizer o mesmo dos espanhóis?!?!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Estações


O sentimento está morrendo?
- por que não nomeio "esse sentimento"? por medo de errar?
chamar de amor é exagero? chamar de paixão é pouco? não sei...
talvez precise de um outro idioma pra nominá-lo.

Mas está? Não, não está.
Mesmo sem nome,
algo pulsa em mim.
Já não é a mesma, mas há pulsação.


Antes era uma agitação sem fim,
hoje é sereno, sereno como o outono,
com seus dias límpidos e frios
e sua luz inigualável -
tenho a tentação de dizer sereno como o amor,
mas não houve outonos suficientes pra falar de amor:
amor demanda tempo.

O verão se foi e com ele a euforia das festas,
dos corpos expostos
e da paixão urgente,
com ele também se foi seu corpo que aquecia o meu -
mas foi decisão pensada e repensada, e não arrependida.
O calor do corpo se foi, mas no lugar ficaram as palavras,
sementes de esperanças.

Espero que o inverno não seja longo e rigoroso,
que o calor remanescente possa suportá-lo -
o calor é o alimento pra quem ama.
Tenho frio.

Que a primavera chegue sem demora,
frutificando as sementes ocultadas no inverno e
trazendo as flores que perfumam a alma
e as frutas que saciam o corpo.

(Se for paixão, talvez não resista ao inverno.
Mas ai, ao menos, saberei nomeá-lo)


A poesia é a alma falando
falando da vida
dizendo da dor
superando o sofrimento
evocando o desejo
despertando o encantamento
desfrutando o prazer
eternizando a vida

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Quero


Quero uma sandália nova pra gafieira

Quero uma lua nova e cheia pra iluminar

Quero livros novos que me prendam

Quero roteiros novos pra partir

Quero flores novas pra cheirar

Quero cores novas pra vestir

Quero músicas novas pra cantarolar

Quero filmes novos pra me comover

Quero um novo amor pra me enamorar

Quero um samba novo pra saracotear

Quero sabores novos pra me deleitar

Quero lugares novos pra me divertir

Quero mares novos pra me aventurar

Quero olhos novos pra ver o velho!!

Quero me atrever!!


A única coisa que não quero novos são os amigos

Quero os velhos amigos, pra dividir todas as novidades!!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Beleza é fundamental


Se vocês pensaram que eu ia falar do Vinícius, se enganaram.
Embora valha muito a pena postar esse poema dele, isso vai ficar pra outra hora (mas podem esperar, pois adoro esse poema!!).
Lendo a Folha de hoje, me deparei com a coluna do Ruy Castro, cujo título é Surto Cívico.
Nela encontrei sintetizado o meu pensamento sobre a seleção brasileira de futebol:
"Tenho uma relação meio espírito de porco com a seleção. Só torço por ela se jogar bem e bonito, ganhe ou não. Ganhar não é tão importante. Domingos da Guia, Leônidas da Silva e Zizinho nunca foram campeões do mundo; Dunga, Gilberto Silva e Kleberson são. Viu como não é importante?"
Eu adoro futebol - herdei de meu pai o gosto por uma boa partida - mas gosto de jogo bem jogado, disputado, criativo, surpreendente, bonito.
Será que durante as partidas do Brasil teremos um time criativo, ousado, bonito?
Acho que não. O Dunga se certificou que todos os jogadores convocados fossem obedientes e disciplinados, mas algum deles poderá fazer uma "molecagenzinha" sem tomar uma bronca?
Tomara que sim, pois eu acho que a vida sem uma pitada de molecagem é muito sem graça!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Memórias


Como posso me lembrar da expressão exata de seus olhos,
sem fazer ideia de que cor eles estavam naquela hora?
(sim, porque os olhos mudam de roupa, dependendo de seu estado de espírito...)

Como posso me lembrar da voz que exagerava tudo e mais um pouco...
sem lembrar de uma só palavra que era pronunciada por ela?

Como posso me lembrar do cheiro desagradável do cigarro,
sem saber se havia fumaça?

Como me lembro tão perfeitamente do meu desespero,
ao ouvir seus gritos e ver seu rosto de dor,
escondido de mim por intermináveis corredores?

Como posso me lembrar de minha avó rodeando o fogão
pra roubar um pouquinho do doce de abóbora de minha mãe:
"É pras crianças, elas estão com vontade!!"
(A criança com mais vontade tinha pelo menos 60 anos!!).
Não me lembro de seu rosto, só de seu corpo, dançando em volta do fogo...

Como posso me lembrar de quem me ensinou o prazer de um bom papo furado,
regado a caipirinha e "belisquetes" no boteco mais próximo,
sem saber qual foi a primeira vez que estivemos juntos no Valadares?

Como posso me lembrar tão perfeitamente de
quando disse que me faria gostar de montanhas,
sem ter ideia do ensejo pra tal promessa?

Como posso ver as cicatrizes no meu corpo,
e não lembrar da dor ?
(não me lembro dela, mas sei que me tornou mais forte)
Como posso lembrar do livro que me absorveu tão completamente,
sem ter ideia da história que ele contava?

Como posso me lembrar com saudade
de seu beijo roubado
sem saber como você se aproximou tanto de meu rosto?

Como posso me lembrar dos momentos incríveis que a vida me reserva,
se eles ainda estão a caminho?

A memória é imprevisível
e temperamental:
só guarda em seu baú o que bem quer!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Hoje andei me perguntando o que fica de nossas experiências, aí me lembrei de um belo poema do Drummond, chamado Resíduo.
Ei-lo:

De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
- vazio - de cigarros, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco do teu queixo
no queixo da tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.

De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...

De tudo ficou um pouco:
de mim, de ti, de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.

E de tudo fica um pouco
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliiotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.


PS: Espero que de minhas palavras e meus abraços também fique um pouco! E que nos restem botões (de flores, de preferência) e não ratos!

quinta-feira, 20 de maio de 2010




Olho o céu e vejo
uma sereia boiando nas nuvens.

Todos os olhares se voltam pra ela,
que faz acrobacias no ar
com seu rabo luminoso sob os reflexos do sol.

Seu corpo flutua no ar
Poema surrealista em pleno centro de São Paulo
(aliás, nada mais surreal que o centro de São Paulo!)

Da torre da Estação da Luz, na manhã
de um ensolarado domingo
a sereia azul domina o céu da cidade.


segunda-feira, 17 de maio de 2010

Improviso


Um anônimo me tira pra dançar, no meio da rua,
tendo como testemunhas o edificio Copan, a lua
e a multidão que passa ou a que retém o passo,
pra apreciar aquela dança improvisada.

Sensação boa
de liberdade
de empolgação
de descoberta
do imponderável
do inusitado
da vida que surpreende

O DJ, com sua pick up improvisada na calçada,
nos embala ao som de sucesos antigos
e músicas novas, a maioria desconhecidas por mim.

O gentil estranho
ora me puxa contra seu corpo,
ora me "arremessa" na direção oposta,
pra no momento seguinte me resgatar
e improvisarmos um novo passo.

Ficamos assim, pelo infinito tempo
de uma música.
Tempo em que a alegria do ritmo
toma definitivamente conta de nós.
Tempo em que nossa atenção está voltada exclusivamente
para o improviso da dança.
Tempo efêmero que se cristaliza para sempre na memória,
ao lado de outras tantas experiências prazerosas.

Quando a música acaba - que susto! -
meu parceiro me toma no colo
e gira no ar.
Assim termina nosso voo musical,
do mesmo modo que começou:
surpreendentemente!

terça-feira, 11 de maio de 2010

A pátria de chuteiras


Por conta da convocação dos 23 titulares pra Copa na África - até este momento o nome dos 7 reservas ainda não foi revelado - fiquei pensando que nesta competição vamos ver, no time do Brasil, muita disciplina e determinação, mas pouca criatividade e ousadia.

Aliás, a própria lista mostra poucas surpresas, só mesmo o Grafite, que pra mim foi uma senhora surpresa, já que não tinha a menor ideia de quem ele era, pois não acompanho o campeonato alemão.

(O único Grafite que conheço é o garçom lá do bar que frequento, que por sinal faz uma caipirinha de lima da pérsia deliciosa. Esse bate um bolão!!!)

O Dunga, desde jogador, privilegiou a força e a determinação. Lembra de como ele era na Copa de 94? Pois é, acho que continua o mesmo - previsível.

Os resultados o favorecem - ganhou a Copa em 94, como capitão, e as da América e Confederações, como técnico. Talvez ganhemos a Copa, mas não será com a alegria e irreverência com que os meninos da Vila nos brindaram. Tudo bem, hoje o mundo é de resultados - paciência!

Veja bem, não estou defendendo aqui a convocação de Ronaldinho Gaúcho, Neymar ou Ganso, só estou ponderando que eles, ou ao menos um deles, poderiam dar uma "bossa" pra esse time.

Sabe o tempero da feijoada? Pois é, na minha opinião ficou de fora. Mas tudo bem, posso estar errada, afinal entendo pouco de futebol e nada de cozinha.

Tomara Deus, eu esteja errada!! E tomara Deus que esse Grafite faça uma caipirinha ao menos parecida com o "meu" Grafite lá do bar!!!

Seus olhos


Ontem, levei um susto
Vi um de seus olhos na minha máquina fotográfica.

Havia esquecido daquela foto.
Mas ele estava ali, em close, com um meio sorriso pra mim.

Dessa vez ele estava verde.
Sempre os achei azuis, mas os descobri verdes pela lente.

Será que não vejo bem a realidade, quando se trata de você?
Será que sofro de algum tipo de daltonismo, causado pela confusão de sentimentos?

Enquanto divago, ele continua ali, a me olhar.
Será que não sabe fazer outra coisa?!
Somente olhar insistentemente...

Quando olho no fundo de seus olhos, me perco
e percebo que a tudo que minha mente dispõe,
meu desejo se contrapõe.