Por que "clepsidro-me"?!?!

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segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Trouxeste a chave?

Em uma cena do filme "O jogo da imitação", Alan Turing pergunta a seu amigo:
- O que está lendo?
- É sobre criptografia.
- Tipo mensagens secretas?
- Não são secretas. Essa é a beleza. Mensagens todos veem, mas   ninguém entende, a menos que tenha a senha.
- Qual a diferença de falar?
- Falar?
- Quando as pessoas conversam nunca falam o que querem. Dizem outra coisa e esperam que você entenda o que querem dizer. Mas eu nunca entendo. Então, qual a diferença?
- Alan, algo me diz que você será muito bom nisso - diz o amigo, dando o livro sobre criptografia a Alan.


Quando vi a cena, pensei na incomunicabilidade entre as pessoas, ou melhor, no eterno e inútil esforço do homem se comunicar com o outro: somos todos enigmas, para o outro e para nós.
Esse pensamento me levou à Clarice Lispector, a quem esse tema era caro, e, em seguida, à literatura de forma mais ampla. Será a literatura uma espécie de criptografia da alma? Será que nossas almas são criptografadas, sem que tenhamos a senha?
Impossível não lembrar Drummond e seu "Procura da poesia":

"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?"