Por que "clepsidro-me"?!?!

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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Amizades líquidas ou porque meus amigos não são os do Facebook


Se você é meu amigo do Facebook (FB) e se ofendeu com título deste post, peço duas coisas: primeiro, sinceras desculpas, não pretendia ofendê-lo. Segundo, que leia este texto até o fim para que compreenda minha afirmação e, assim, quem sabe, me perdoe.

Em minha defesa tenho a dizer que meus amigos “de verdade” (reais, dos quais eu conheço o rosto, a voz, as qualidades e os defeitos) também estão na lista de “amigos” virtuais. Contudo o inverso não é verdadeiro.

Antigamente, fazíamos uma distinção clara entre “colegas” e “amigos”. Colega era aquele com quem se mantinha uma relação superficial. Já amigo era uma pessoa próxima, que frequentava sua casa e com quem você mantinha uma relação de companheirismo. Quando morei no Rio de Janeiro, brincava com os cariocas que eles poderiam se considerar amigo de um paulista quando fossem convidados para ir a casa dele.

Andei pensando essas coisas desde que entrei nas redes sociais, mas nunca parei para refletir sobre elas como o fiz nesses últimos tempos. Se você acompanha meu Facebook pode achá-lo meio desinteressante porque não posto lá muitas coisas: nunca tive vontade de compartilhar minha dor de dente, meu presente dos Dias dos Namorados ou minhas fotos do churrasco de domingo.

Não compartilho muitas coisas porque não consigo entender o interesse que despertariam nos outros (a menos que seja um interesse impertinente e despropositado pela vida alheia) e outras não são postadas porque devem ser compartilhadas com pessoas especiais e não com o “planeta”.

E por que essas questões resolveram me assaltar ultimamente? Por que comecei a ler um livro - Gadget: você não é um aplicativo - que questiona, entre outras coisas, o papel do indivíduo no mundo digital e afirma que os indivíduos estão cada vez mais despersonalizados.

Isso me fez lembrar do Bauman, que diz que hoje temos uma vida líquida, na qual a volatilidade das relações é um imperativo. As relações afetivas são um espelho disso; e os “colegas” do FB, um exemplo contumaz.

Hoje é muito comum termos muitos “colegas” no FB, que ingenuamente chamamos de amigos. A noção de amizade está cada vez mais líquida...

E o que Bauman quer dizer com esse termo? Ele opõe o termo a “sólido”. Para o sólido é mais difícil conformar-se (assumir uma forma que não é a sua). Por outro lado, o líquido, além de se amoldar com muita facilidade, derrama-se por todo o espaço, mas não se apropria dele.

Sob esse aspecto, as amizades virtuais são bastante líquidas. Na minha “time line” passam com muita fluidez meus “amigos” que, assim como a água, me escapam. Suas histórias são rapidamente substituídas sem que eu tenha tempo de assimilá-las, de sedimentá-las. Elas são prontamente “consumidas” e substituídas, conforme a rapidez que a sociedade de consumo exige. Nós “fingimos” participar da vida de nossos “amigos” e compartilhar suas histórias, aderindo à lógica do simulacro, tão bem discutida por Baudrillard.

Na sociedade de liquidez, simulacro e consumo, o “eu” se despersonaliza e, consequentemente, pasteuriza sua relação com o outro.

Entendeu agora porque faço questão de diferenciar os amigos? Amigo é valioso demais para se deixar evaporar...


PS: Esse texto foi produzido para a avaliação final de uma das disciplinas de meu curso de pós sobre Mídias Digitais.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Casamento

Por conta de um vídeo postado no Facebook, essses dias estava "discutindo" com uns amigos - a maioria músicos - sobre a mulher fazer a base pros namorados músicos. Claro que a discussão caiu no tema "machismo" (base, no jargão musical é cozinha). Muitos comentários a respeito: alguns indignados e outros de apoio.
Como disse lá no Face, acho essa discussão meio ultrapassada. Será que a gente não aprendeu ainda que nas relações, inclusive as amorosas, cada hora um faz a base pro outro? Se eu não apoiar as pessoas a quem amo e não receber apoio delas, de que serve a relação? Só pra horas boas? Isso me parece bem superficial. Já diz lá em Eclesiastes 4: "Melhor é serem dois do que um, porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante."
Esse papo de machismo e feminismo me fez lembrar de um poema belíssimo da Adélia Prado, cujo título é Casamento.


Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

Acho esse texto lindíssimo pela cumplicidade do casal nas coisas simples do dia a dia. Na minha opinião, esse é o grande segredo de todo relacionamento.
E, a menos que eu esteja vendo coisas, esse é um texto de uma sensualidade penetrante, o que me leva a crer que a cumplicidade faz espocar o erotismo...


PS: o Aurélio traz como sentido figurado de espocar:  desabotoar impetuosamente. Sugestivo, não?   ;)

PS: Texto extraído do livro "Adélia Prado - Poesia Reunida", Ed. Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 252.




sábado, 2 de junho de 2012

"Mas existe verdadeiramente outro rumo? Na verdade, existe a direção que tomamos. O que poderia ter sido já não conta."
Mario Benedetti, em Quem de nós