Por que "clepsidro-me"?!?!

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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Dia 19 de julho morreu Rubem Alves.
Na ocasião, eu não consegui nem comentar, fiquei imensamente triste. Quando penso, chego até a marejar (eu inteira e não apenas meus olhos).
Ele era um amigo e tanto - não, nunca fui íntima dele, mas isso pouco importa. O que importa é que ele era meu amigo íntimo e me apoiou em muitos dilemas profissionais e pessoais.
Quando mudava de casa, uma das mais importantes providências era marcar a caixa onde estavam seus livros, junto com os de outros amigos, pra qualquer eventualidade - era como ter um remédio mágico/poético sempre à mão.
Ele participou, à revelia, de uma das piores chantagens que me fizeram: faça isso e te levo pra tomar um café com o Rubem Alves! (Nossa, como foi difícil manter minha decisão!).
Nessa hora lembro de outro grande amigo - o Manuel Bandeira - que escreveu um poema sobre o Mário de Andrade.
O poema chama-se "O Mário de Andrade Ausente":

Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunharam:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.
Sei bem que ela virá
(Pela força persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra.
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue.
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente.

Mas agora não sinto a sua falta.
(É semrpe assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)

Você não morreu: ausentou-se.
Direi: Faz tempo que ele não escreve.
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.

Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?
A vida é uma só. A sua continua
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta.

#RubemAlves