Na foto,
tirada há 50 anos,
vi um menino.
Causou-me espanto.
Espantou-me não a diferença, mas a semelhança.
O nariz bradava: sou o mesmo.
Os olhos e o sorriso, também reconheci: francos como eu os sabia.
A expressão do rosto,
misto de alegria e curiosidade,
atestava: sou eu, ainda que cem anos
me distanciem do meu retrato.
Minha alma aquietou-se:
desde sempre é assim.
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Amante
das orquestras
do cinema
do vinho
do charuto
das sereias perfumadas
das mulheres
das artes
Manda chuva
que não manda no coração
Malcriado
orgulhoso de sua malcriação
Desalmado
que não sabe o fazer
com a sensibilidade da alma
Que o tempo equilibre alma e desalma,
Que Apolo e Dionísio o abençoem!!
jun/13
das orquestras
do cinema
do vinho
do charuto
das sereias perfumadas
das mulheres
das artes
Manda chuva
que não manda no coração
Malcriado
orgulhoso de sua malcriação
Desalmado
que não sabe o fazer
com a sensibilidade da alma
Que o tempo equilibre alma e desalma,
Que Apolo e Dionísio o abençoem!!
jun/13
segunda-feira, 17 de junho de 2013
terça-feira, 21 de maio de 2013
Sensibilidade roubada
Nesse Tempo, como somos imortais, pra que Futuro?
(roubada de um desalmado)
Marcadores:
amigos,
meus preferidos,
recordações,
vida em verso
sexta-feira, 10 de maio de 2013
O tempo todo
eestava consciente de sua presença,
sensível ao seu toque sutil
na minhas costas.
Toque imperceptível para os outros,
indelével para mim.
Não toda a palma da mão,
apenas as pontas dos dedos,
fazendo uma leve pressão nas minhas costas.
Como se dissesse:
"Estou aqui".
Como se fosse
preciso me dizer isso...
Através da blusa fina,
sentia o calor de seus dedos,
que se espalhava pelo meu corpo
Se o desejo
precisa de apenas uma fagulha,
estava ali anunciado
um incêndio...
eestava consciente de sua presença,
sensível ao seu toque sutil
na minhas costas.
Toque imperceptível para os outros,
indelével para mim.
Não toda a palma da mão,
apenas as pontas dos dedos,
fazendo uma leve pressão nas minhas costas.
Como se dissesse:
"Estou aqui".
Como se fosse
preciso me dizer isso...
Através da blusa fina,
sentia o calor de seus dedos,
que se espalhava pelo meu corpo
Se o desejo
precisa de apenas uma fagulha,
estava ali anunciado
um incêndio...
terça-feira, 30 de abril de 2013
Solidão
Solidão é o vagão
do Metrô completamente vazio
no infinito percurso
de 6 estações.
O silêncio se arrasta,
ao som das escadas rolantes.
Marcadores:
cotidiano,
lugares,
poesia,
vida em verso
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Histórias
"Bem, talvez a gente seja feliz demais."
"É, pois é, já faz um tempo que eu andava querendo conversar sobre isso com você. Seria muito melhor se você pudesse me fazer um pouco mais infeliz."
"Pare com isso. Estou falando de história. Como nos conto de fadas: 'E eles viveram felizes para sempre' é sempre a última frase."
"Me faz uma gentileza: seja um pouco mais clara."
Ah, você sabia exatamente o que eu queria dizer. Não é que a felicidade fosse insípida É que ela não dava uma boa narrativa. E uma das nossas melhores e maiores distrações, com a velhice, é recitar, não só para os outros, como também para nós mesmos, nossa própria história. Eu sou mestre nisso: fujo da minha história todo dia e ela me persegue como um vira-latas abandonado. Por isso mesmo, um aspecto meu que mudou da juventude para cá é que agora considero as pessoas com pouca ou nenhuma história para contar como tremendamente afortunadas."
Lionel Shriver, In: Precisamos falar sobre o Kevin
"É, pois é, já faz um tempo que eu andava querendo conversar sobre isso com você. Seria muito melhor se você pudesse me fazer um pouco mais infeliz."
"Pare com isso. Estou falando de história. Como nos conto de fadas: 'E eles viveram felizes para sempre' é sempre a última frase."
"Me faz uma gentileza: seja um pouco mais clara."
Ah, você sabia exatamente o que eu queria dizer. Não é que a felicidade fosse insípida É que ela não dava uma boa narrativa. E uma das nossas melhores e maiores distrações, com a velhice, é recitar, não só para os outros, como também para nós mesmos, nossa própria história. Eu sou mestre nisso: fujo da minha história todo dia e ela me persegue como um vira-latas abandonado. Por isso mesmo, um aspecto meu que mudou da juventude para cá é que agora considero as pessoas com pouca ou nenhuma história para contar como tremendamente afortunadas."
Lionel Shriver, In: Precisamos falar sobre o Kevin
Línguas que não sabemos que sabíamos
Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. Mal ele inicia a narração, ela o faz parar:
_ Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.
- Desconhecida? - pergunta ele.
- Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!
O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano. Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.
Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino James Joyce chamava de "caosmologia" a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.
Mia Conto, no texto Línguas que não sabemos que sabíamos, do livro E se Obama fosse africano.
_ Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.
- Desconhecida? - pergunta ele.
- Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!
O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano. Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.
Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino James Joyce chamava de "caosmologia" a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.
Mia Conto, no texto Línguas que não sabemos que sabíamos, do livro E se Obama fosse africano.
domingo, 28 de abril de 2013
Black & White
Libertos de todas as amarras,
misturam
as flores,
as cores, e
das cores
saboreiam o prazer.
Amantes da loucura,
que guarda seus eternos segredos
Vida que aflora das minas
Minas de prazer e desassossego.
(julho/2005)
misturam
as flores,
as cores, e
das cores
saboreiam o prazer.
Amantes da loucura,
que guarda seus eternos segredos
Vida que aflora das minas
Minas de prazer e desassossego.
(julho/2005)
quinta-feira, 25 de abril de 2013
Resposta a Joaquim
O amor comeu tudo
Ou quase tudo
O amor não tragou meu desejo,
Que ousado o desafia:
Decifra-me
Ou devoro-te
PS: No caso, o Joaquim é João. Para entender, veja o poema "os três mal-amados", de João Cabral de Melo Neto
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Ítaca
Hoje eu li alguns poemas do Alexandrino Konstantinos Kávafis e um deles - Ítaca - me chamou especial atenção, talvez porque ainda não aprendi a lição que ele encerra. Ei-lo:
Se partires um dia rumo à Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo, repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás
se altivo for teu pensamento, se sutil
emoção teu corpo e espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma, se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria, tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda espécie,
quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha velho enfim
rico de quanto ganhaste no caminho
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mias do que isso não cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência
e agora sabes o que significam Ítacas.
(Poemas, tradução de José Paulo Paes, Ed Nova Fronteira, 1982)
quarta-feira, 27 de março de 2013
Fui sabendo de mim
Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia
pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia
fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei
eu vi
a árvore morta
e soube que mentia
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
por aquilo que perdia
pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia
fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei
eu vi
a árvore morta
e soube que mentia
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
Levitando
Quero registrar duas frases do último livro que li do Agualusa, o Manual Prático de Levitação:
"O passado é como o mar: nunca sossega", do conto Um ciclista; e
"Se nada mais der certo leia Clarice", do conto de mesmo nome.
Embora tenha adorado essas frases, elas não são do meu conto favorito, o Catálogo de Sombras, em que o autor mistura Fernando Pessoa, Alberto Caeiro candomblé e macumba, além de fazer referência à cidade baiana de Cachoeira, onde estive e me hospedei na Pousada do Convento do Carmo, que também está no conto.
Assinar:
Postagens (Atom)