Por que "clepsidro-me"?!?!

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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sequestro

Esses dias fui sequestrada. O nome dos sequestradores: Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander.
Esses são os personagens centrais do romance "Os homens que não amavam as mulheres", do sueco Stieg Larsson.
Comecei a ler o livro tão depretenciosa quanto ingenuamente e não pude mais largá-lo. Esses dias, por volta das oito da noite, retomei a leitura, que estava lá pela página 260 (são mais ou menos 520 páginas) e não parei até que terminasse o livro - isso já era duas e meia da manhã! - pois eu PRECISAVA saber o que ia acontecer!
Adorei esses personagens, eles são originais e bem construídos (acho que as "pontas soltas" das personagens vão se resolver no próximo livro). A prosa de Larsson flui, sua linguagem é espontânea e atual. É verdade que o tema é bem violento, mas o leitor fica preso na rede de informações e tenta a todo custo montar o "quebra-cabeça" do enredo. Tentativa inútil, pois o livro é surpreendente.
Já havia sido sequestrada outras vezes, as duas mais recentes pelo Miguel Sousa Tavares, com seu "Equador" e pelo Agualusa, com seu apaixonante "As mulheres de meu pai". Mas nenhuma com tanta força como dessa vez.
Acho que fiquei com a "sindrome de Estocomo" (segundo os psicólogos, ela se dá quando o sequestrado se apaixona pelo sequestrador), pois assim que terminei o livro, encomendei os dois outros que compõem a trilogia Millennium. Acho que realmente me apaixonei pelo jornalista e pela hacker de Estocomo!!
Faltam pouco menos de 200 páginas para terminar o segundo volume e já me arrependo de não ter trazido na viagem o terceiro!!!
Bem, terei que esperar pra saber como termina essa saga. Será que aguento?!?!?!

PS: Foi lançado recentemente um filme baseado no primeiro volume da série, contudo eu não tenho a menor intenção de ver, pois os "meus" personagem certamente são bem mais interessantes que os do diretor do filme. Mas fica ai a dica.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Gullar


Depois de 11 anos de jejum, ontem foi o lançamento do livro "Em alguma parte alguma", do poeta Ferreira Gullar (mais um pra minha lista...).

Na sessão de autógrafos, que foi na Livraria da Travessa, no Rio, ele disse uma coisa com a qual concordo:

"O poeta não acredita na verdade com "V" maiúsculo, ele sabe que o mundo é caótico e não tem explicação, por isso está mais receptivo a apreendê-lo tal como é" .

Na verdade, eu acho que qualquer expressão artística deve ser assim, pois a verdade depende da miopia dos olhos que a veem (vocês lembram do post sobre o poema "A verdade dividida", do Drummond? Se não me engano postei em março do ano passado...)

Ele falou outra coisa que também acontece comigo: "Escrevo para me livrar de uma emoção. Ninguém consegue ficar emocionado o tempo todo".

No meu caso, ao escrever, eu deixo a emoção fluir, portanto me "livro" dela, mas ao mesmo tempo eu capturo-a, como numa fotografia, assim ela passa a me pertencer para sempre...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Os embalos de sábado à noite






Se vocês pensaram que esse post é sobre
o John Travolta ou os anos 70/80,
estão muito enganados.


Na verdade esse texto é sobre uma saborosa e divertida noite de sábado, embalada pelas histórias deliciosas do Mia Couto e do José Eduardo Agualusa (na foto, tirada pela minha mais recente amiga, Ludmilla Jones).




Os dois escritores africanos participaram da Bienal do Livro e eu tive o prazer de ouví-los.



Eu, desde que conheci os livros deles, virei fã incondicional - ano passado passei por uma febre africana, que não havia espaço pra outras culturas na minha estante. Esse ano dei uma variada, por isso ainda não li o último do Agualusa, mas já está na lista e, depois da Bienal, talvez até fure a fila!!





Pelos livros, não podia imaginar quão engraçados eram os dois! Ouvi histórias divertidíssimas.


O Agualusa tem razão ao falar que os africanos salvaram o Brasil da melancolia portuguesa!!



Pra não dizer que tenho preferência por um ou por outro, vou contar uma história de cada! Lá vai, primeiro a do Mia, o poeta que conta histórias.



Ele, que é de Moçambique, diz que quanto menor a cidade, mas sentimentais e calorosas são as despedidas - até parece que não se vai voltar! E não foi diferente quando veio a primeira vez ao Brasil, país sobre o qual os africanos não conhecem muito (assim como nós pouco conhecemos a respeito da África).



Depois das numerosas e intensas despedidas, Mia embarcou para São Paulo. De sua mente não saia a ideia de uma metrópole violenta, na qual estaria exposto a muitos riscos.



Ao chegar no aeroporto, encontrou seu nome escrito numa placa que parecia improvisada. O homem que segurava a placa pareceu-lhe um tipo estranho! Voltou-lhe à mente os perigos da viagem... O estado do veículo que os esperava não tranquilizou nem um pouco o visitante, que já anteviu a tragédia... mas mesmo assim entrou no carro.



Com esses pensamentos na cabeça, percebeu, pelo vidro do carro, a aproximação de um objeto metálico e ouviu uma voz: O senhor quer uma balinha...



Sem saber que "balinha", além de projétil, também significa um tipo de doce, Mia pensou que seria morto pelo assassino mais gentil do planeta!!!



Em uma das inúmeras vezes que esteve no Brasil, o Agualusa teve a seguinte conversa com um taxista:


- De onde o senhor é?
- Sou de Angola - responde o escritor.
- Mas fica em que estado? - retruca o motorista
- Não fica no Brasil. Fica na África.
- Ahhh. Eu queria te parabenizar porque você fala muito bem português!



É realmente impressionante o desconhecimento que temos sobre a África portuguesa e eles sobre nós!! Uma pena, pois a literatura africana lusófona me parece muito rica e seus autores - ao menos os poucos que conheço - são muito instigantes.


Vale a pena ler não só os dois autores citados, mas outros, como o Pepetela, o Manuel Lima, o Rui Duarte de Carvalho (citado com muita emoção no encontro da Bienal), o Ondjaki, entre outros. Muitos estão na minha lista, que engorda dia-a-dia!!



O mais interessante na literatura africana, pra mim, é que ela é muito diversa, assim como o é a África, e por isso mesmo me proporciona várias supresas, não só na linguagem e na língua - que é mesma e é outra -, como na visão de mundo. Cada vez mais me interesso por ela ou por elas, pois como diz o Ondjaki: "porque África são muitas, e várias e tantas".






PS: Claro que a transcrição da conversa entre o Agualusa e o taxista não é literal, é o que minha memória afetiva guardou. Contudo, se você quiser ouvir essa e outras histórias acesse o link abaixo e divirta-se também.



http://www.youtube.com/user/bienaldolivrosp#p/search


Em tempo: Espero que a situação em Maputo - capital de Moçambique - tenha um bom termo.