Por que "clepsidro-me"?!?!

Leia a primeira postagem e descubra!!! (clique aqui)







quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Cicatrizes

"Nas pernas escuras da moça havia muitas cicatrizes brancas pequeninas. E pensei: Será que essas cicatrizes estão no seu corpo inteiro, como as luas e estrelas no seu vestido? Achei que isso também seria bonito, e peço-lhe neste instante que faça o favor de concordar comigo que uma cicatriz nunca é feia. Isto é o que aqueles que produzem as cicatrizes querem que pensemos. Mas você e eu temos de fazer um acordo e desafiá-los. Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado?"
(da página 17, do livro "Pequena Abelha", de Chris Cleave)

"O vento soprou no sári amarelo e vi uma cicatriz na garganta dela, de um lado a outro, grossa como um dedo mindinho. Branca igual a um osso na pele escura dela. Encalombada e enrolada em torno da traqueia dela como se não quisesse soltá-la. Como se achasse que ainda tinha chance de acabar com ela. Ela me viu olhando e escondeu a cicatriz com a mão, e aí olhei para a mão. Havia cicatrizes  na mão também. Combinamos aquilo sobre cicatrizes, eu sei, mas dessa vez desviei o olhar porque às vezes a beleza é demais."
(da página 66, do livro "Pequena Abelha", de Chris Cleave)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O gato do rabino


Fui ver esse filme sensacional sobre um gato que passa a falar depois de engolir o papagaio do rabino. A animação é ótima, o traço do desenhista, muito bom (estou até pensando em comprar o HQ) e o filme, repleto de cor.
Gostei especialmente porque o gato, de um humor refinado e um pouco ácido, nos faz refletir sobre nossas crenças - religiosas ou não. Temas como tolerância e amizade são tratados de uma forma inteligente e, às vezes, sarcástica.
Do filme, anotei duas frases para pensar:
"Você dá nome científico às coisas e acha que entendeu."
"Os pequenos detalhes mostram a extensão do que não sabemos."
Vi o filme na sexta e ainda continuo pensando nas frases.
Gosto disso.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Nelson Rodrigues

Em 23 de agosto de 1912, nascia, em Recife, Nelson Rodrigues.

Portanto, acabamos de comemorar 100 anos do nascimento desse menino que via o mundo pelo buraco da fechadura.

Dono  de um humor ácido e de inúmeras frases sensacionais e polêmicas, o escritor e dramaturgo foi homenageado, pelo Itaú Cultural, com uma exposição, a qual visitei. Abaixo vocês têm uma pequena degustação:















PS: Pra quem gostou das frases, sugiro a leitura do Flor de Obsessão, livro no qual o Ruy Castro reuniu as "mil melhores frases" de Nelson Rodrigues.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Mentiras

Esses dias estava lendo um livro que está na estante há alguns meses. Ele é composto por pequenos textos, independentes entre si. É como seu autor diz: "Assim é esse livro, sem princípio, sem meio, sem fim. Um álbum de fotografias em que cada fotografia vale por si mesma." Como estou sem tempo nenhum para ler, mas não posso deixar de alimentar meu vício, esse é o livro ideal pra mim.
Reproduzo abaixo um dos textos que achei bem pertinente para o momento em que estamos vivendo, chama-se "Novo slogan político":

Alguém escreveu num muro branco da Universidade do Porto, em Portugal, a sua exigência política: "Queremos mentira novas!". Quem o escreveu sabia das coisas. Sabia que era inútil pedir o impossível: "Basta de mentiras!". Na política, apenas as mentiras são possíveis. Mas ele já estava cansado das mentiras velhas, batidas, como piadas cujo fim já se conhece, que diariamente aparece nos jornais. Mentiras velhas são um desrespeito à inteligência daquelas a que são dirigidas. Que mintam, mas que respeitem a minha inteligência! Mintam usando a imaginação! Por isso escrevia, em nome da inteligência, do possível e do humor: "Queremos mentiras novas!"  (Ostra feliz não faz pérolas, Rubem Alves)

Claro que quando li isso, pensei imediatamente nas eleições municipais que estão sendo disputadas em todo o País. Mas agora, ao digitar o texto, me dei conta de que nós também mentimos as mesmas mentiras por milênios: mentimos para os outros e mentimos para nós mesmos. Acho que a avassaladora maioria não mente porque é mau caráter, talvez nem perceba que está mentindo. Mas isso não transforma a mentira em verdade.
Daí pensei: quais mentiras preciso parar de contar, aos outros, e, especialmente, a mim mesma?!?! Em quais mentiras preciso deixar de acreditar?
Eu, ao contrário do pichador português, quero o impossível (e, pasmem, muitas vezes consigo!!)

domingo, 2 de setembro de 2012



céu recatado
escondido por rendas brancas

árvores despudoradas
com bocas carmesins

pureza e malícia
alimento para o homem


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Li hoje, com certo atraso, a coluna do Contardo Calligaris de quinta-feira, dia 16/08, e não posso deixar sem registro uma frase com a qual concordo inteiramente:

"Educar implica o risco de ser detestado - risco que um pai deve correr sem hesitação".

PS: O texto foi escrito por ocasião do Dia dos Pais e, creio eu, ser por isso que ele se refere apenas a pais, mas a frase bem pode ser estendida a qualquer que se entregue a tarefa de educar.

terça-feira, 7 de agosto de 2012


"Este segundo pensamento lhe ocorria sobretudo à noite, no emaranhado caótico de imagens que precede o sono, quando a mente está demasiado debilitada para contar mentiras a si mesma"

A solidão dos números primos, de Paolo Giordano

terça-feira, 31 de julho de 2012

  
“Palavras são, na minha nada humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia.
Capazes de causar grandes sofrimentos, e também de remediá-los.”

Alvo Dumbledore, diretor emérito da Escola de Bruxaria de Hogwarts

                                   Harry Potter - J. K. Rowling 
  


Não sou fã da série Harry Potter, vi só um filme e não li nenhum livro, mas várias pessoas já me disseram que deveria assistir aos filmes. Estão na lista de filmes, livros e lugares para degustar.
Então, se não sou fã, por que postei essa frase? Porque concordo com ela. Um amigo ma enviou ("ma enviou" é ataque de frescurice, mas vá lá) por email, cujo título era "sobre suas amigas, as palavras".
Concordo que as palavras são minhas amigas porque nelas sempre encontro refrigério, como se fossem um ombro amigo ou o colo de minha irmã. E porque sinto enorme prazer na companhia delas, especialmente quando escritas.
Dia desses estava dizendo que precisava "prazeirar" minha vida. Agora, escrevendo este post, me dei conta de que faz tempo que não leio nada arrebatador - os últimos livros têm sido raros e mornos.
Mas certamente isso vai mudar, vou resgatar velhos amigos, cuja leitura é sempre prazerosa.

"Sou capaz de colocar uma campanha publicitária no ar em três dias, mas não tem santo que faça o outono chegar um mês antes."

Mario Cohen
(ex-publicitário e atual produtor de azeitonas para fabricação de azeite)
Serafina - Ago/12

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Amizades líquidas ou porque meus amigos não são os do Facebook


Se você é meu amigo do Facebook (FB) e se ofendeu com título deste post, peço duas coisas: primeiro, sinceras desculpas, não pretendia ofendê-lo. Segundo, que leia este texto até o fim para que compreenda minha afirmação e, assim, quem sabe, me perdoe.

Em minha defesa tenho a dizer que meus amigos “de verdade” (reais, dos quais eu conheço o rosto, a voz, as qualidades e os defeitos) também estão na lista de “amigos” virtuais. Contudo o inverso não é verdadeiro.

Antigamente, fazíamos uma distinção clara entre “colegas” e “amigos”. Colega era aquele com quem se mantinha uma relação superficial. Já amigo era uma pessoa próxima, que frequentava sua casa e com quem você mantinha uma relação de companheirismo. Quando morei no Rio de Janeiro, brincava com os cariocas que eles poderiam se considerar amigo de um paulista quando fossem convidados para ir a casa dele.

Andei pensando essas coisas desde que entrei nas redes sociais, mas nunca parei para refletir sobre elas como o fiz nesses últimos tempos. Se você acompanha meu Facebook pode achá-lo meio desinteressante porque não posto lá muitas coisas: nunca tive vontade de compartilhar minha dor de dente, meu presente dos Dias dos Namorados ou minhas fotos do churrasco de domingo.

Não compartilho muitas coisas porque não consigo entender o interesse que despertariam nos outros (a menos que seja um interesse impertinente e despropositado pela vida alheia) e outras não são postadas porque devem ser compartilhadas com pessoas especiais e não com o “planeta”.

E por que essas questões resolveram me assaltar ultimamente? Por que comecei a ler um livro - Gadget: você não é um aplicativo - que questiona, entre outras coisas, o papel do indivíduo no mundo digital e afirma que os indivíduos estão cada vez mais despersonalizados.

Isso me fez lembrar do Bauman, que diz que hoje temos uma vida líquida, na qual a volatilidade das relações é um imperativo. As relações afetivas são um espelho disso; e os “colegas” do FB, um exemplo contumaz.

Hoje é muito comum termos muitos “colegas” no FB, que ingenuamente chamamos de amigos. A noção de amizade está cada vez mais líquida...

E o que Bauman quer dizer com esse termo? Ele opõe o termo a “sólido”. Para o sólido é mais difícil conformar-se (assumir uma forma que não é a sua). Por outro lado, o líquido, além de se amoldar com muita facilidade, derrama-se por todo o espaço, mas não se apropria dele.

Sob esse aspecto, as amizades virtuais são bastante líquidas. Na minha “time line” passam com muita fluidez meus “amigos” que, assim como a água, me escapam. Suas histórias são rapidamente substituídas sem que eu tenha tempo de assimilá-las, de sedimentá-las. Elas são prontamente “consumidas” e substituídas, conforme a rapidez que a sociedade de consumo exige. Nós “fingimos” participar da vida de nossos “amigos” e compartilhar suas histórias, aderindo à lógica do simulacro, tão bem discutida por Baudrillard.

Na sociedade de liquidez, simulacro e consumo, o “eu” se despersonaliza e, consequentemente, pasteuriza sua relação com o outro.

Entendeu agora porque faço questão de diferenciar os amigos? Amigo é valioso demais para se deixar evaporar...


PS: Esse texto foi produzido para a avaliação final de uma das disciplinas de meu curso de pós sobre Mídias Digitais.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Casamento

Por conta de um vídeo postado no Facebook, essses dias estava "discutindo" com uns amigos - a maioria músicos - sobre a mulher fazer a base pros namorados músicos. Claro que a discussão caiu no tema "machismo" (base, no jargão musical é cozinha). Muitos comentários a respeito: alguns indignados e outros de apoio.
Como disse lá no Face, acho essa discussão meio ultrapassada. Será que a gente não aprendeu ainda que nas relações, inclusive as amorosas, cada hora um faz a base pro outro? Se eu não apoiar as pessoas a quem amo e não receber apoio delas, de que serve a relação? Só pra horas boas? Isso me parece bem superficial. Já diz lá em Eclesiastes 4: "Melhor é serem dois do que um, porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante."
Esse papo de machismo e feminismo me fez lembrar de um poema belíssimo da Adélia Prado, cujo título é Casamento.


Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

Acho esse texto lindíssimo pela cumplicidade do casal nas coisas simples do dia a dia. Na minha opinião, esse é o grande segredo de todo relacionamento.
E, a menos que eu esteja vendo coisas, esse é um texto de uma sensualidade penetrante, o que me leva a crer que a cumplicidade faz espocar o erotismo...


PS: o Aurélio traz como sentido figurado de espocar:  desabotoar impetuosamente. Sugestivo, não?   ;)

PS: Texto extraído do livro "Adélia Prado - Poesia Reunida", Ed. Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 252.




sábado, 2 de junho de 2012

"Mas existe verdadeiramente outro rumo? Na verdade, existe a direção que tomamos. O que poderia ter sido já não conta."
Mario Benedetti, em Quem de nós

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Viagens




Estou sentindo falta de escrever... E de ler. Não tenho conseguido fazer duas das coisas que mais gosto: ler literatura e escrever no blog. É como se ficasse um buraco no meu dia. As palavras me alimentam - ando em jejum ultimamente...
Em compensação tenho ido mais ao cinema. Tenho visto muita coisa boa e também muita coisa ruim. Aliás, tem um filme que está com 500 estrelinhas na cotação da crítica que me desgradou muito. Baseado em um livro de um escritor bem famoso, achei o  roteiro inconsistente. Tarefa ingrata a adaptação de livro pra filme - normalmente fica a desejar (execeção feita ao A insustentável leveza de ser, do qual já falei aqui).
Um dos filmes dessa nova safra de que mais gostei foi  "Uma longa viagem", com direção da Lúcia Murat e protagonizado pelo Caio Blat. Gostei da condução do filme, da atuação do Caio, da trilha, das experimentações, sem falar da fascinação que sinto pelo período em que a história acontece: a ditadura militar. Acho comovente a vontade de mudar o mundo (tenho um amigo que diz que eu quero consertar o mundo... talvez venha daí minha atração pela época em que se acreditava que isso era possível...).
O filme trata da trajetória da diretora e de seus dois irmãos, na década de 70. Seu irmão caçula foi enviado a Londres para não seguir os passos políticos da irmã, que havia se envolvido na luta armada. O fio condutor do filme é a intensa correspondência que ele troca com a família, durante os 9 anos em que passa viajando pelo mundo. A narrativa é entrecortada por entrevistas, feitas por Lúcia, ao irmão Heitor, o que nos dá ensejo de saber o que ele não contava nas cartas.
Enquanto Heitor viajava pelo mundo, a irmã era mantida na prisão. Anos depois, devido a carreira de cineasta, Lúcia visita os lugares por onde seu irmão passou. No filme tem uma frase ótima dela, que é mais ou menos assim: Eu e meu irmão nos encontramos no espaço, mas não no tempo.
E o outro irmão de Lúcia? Bem, ele é a razão do filme. Na verdade sua morte é o que leva a cineasta a recompor a trajetória dos três irmãos. No site, o filme é definido como "um documentário que trabalha sobre a memória, não só pela forma como é feita a investigação, mas também sobre o motivo do filme: a morte do terceiro irmão."
Mas não é um filme triste sobre morte, pelo contrário é um filme cheio de vida e sobre as inúmeras possibilidades que ela nos abre. É um filme sobre amizade, laços familiares, dor, liberdade, idealismo, loucura, política, memória...
É um filme sobre muitas coisas, principalmente sobre o ser humano.

PS: A foto foi retirada do site do filme, que vale uma visita:

http://www.taigafilmes.com/longaviagem/index.htm

PS': Como é bom quebrar o jejum e me alimentar das palavras escritas. Agora só falta ser fisgada pelo próximo livro...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem"
G. Rosa - Grande Sertão Veredas

terça-feira, 17 de abril de 2012

Paz e silêncio




"Um silêncio é como um lago, uma superfície lisa e compacta.

Dentro, submersas, as palavras aguardam."



(Octavio Paz - O arco e a lira)

Descoberta

Domingo, estava lendo um livro de fotografia - resisto à tentação de usar o verbo ver, pois, apesar de a maioria das páginas apresentarem belas imagens, eu lia (no sentido que Paulo Freire usa esse verbo) as fotos e as palavras.


Durante a leitura, me deparei com uma frase impactante de um fisiologista húngaro, ganhador do Nobel de Medicina/Fisiologia de 1937.


Talvez você esteja se perguntando o que a frase de um cientista estaria fazendo num livro de fotografia da National Geographic. Talvez se souber qual é a frase, você pense em algo que ninguém pensou:


"Descoberta é ver o que todo mundo viu e pensar o que ninguém pensou"


(Albert Szent-Györgyi)
Tenho andado muito grávida de silêncios...
Ando gestando palavras...

(esse silêncio é feto de palavra
que só deve nascer na hora certa,
caso contrário, o parto torna-se de risco)

Às vezes, aborto alguma
e ela sai,
torta, mal formada e mal formulada,
sem nenhuma condição de cumprir seu fim:
mostrar para o lado de fora o que está dentro.

Ou será que mostra?
Será que o está dentro é também assim:
torto e deformado?

Acho que às vezes é...
Por isso preciso gestar silêncios,
Para que as palavras nasçam no tempo exato,
Não para que nasçam belas -
afinal nem sempre a cria é bela -
mas para que nasçam doces, suaves e tranquilas.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Heleno de Freitas




Todos sabem que gosto muito de futebol, embora não esteja tendo muito tempo de acompanhar os jogos. Ontem meu chefe me atualizou sobre a Libertadores - quem diria, ele, que não gosta de futebol, me contando como foi a rodada, a mim que antigamente assistia a XV de Piracicaba e São Bento de Sorocaba!!
Sou alvinegra, aqui com o Corinthians e no Rio com o Botafogo. Sou fiel à clássica combinação do preto e branco! Chiquérrima!!
Por conta dessa paixão, dia desses fui ver o filme Heleno, sobre um dos maiores craques do Botafogo. Confesso que não o conhecia. Minhas paixões no Fogão são o Garrincha e o Túlio Maravilha. Mas também gosto muito do Gérson, Nilton Santos, Didi e Amarildo (substituto do Pelé na Copa de 62).
Gostei muito do filme, apesar de ser extremamente triste. Mas o que eu mais gostei foi da atuação do Rodrigo Santoro, que faz o personagem do título. Já havia visto outros filmes dele e tinha gostado. Ele é um grande ator.
Gosto especialmente da forma como ele se entrega ao personagem, sem nenhuma vaidade. Nesse filme ele está irreconhecível. Na primeira cena do filme, que é em flash back, vemos o Heleno no final da vida. Quando a cena rodou, pensei: Ué, não era o Santoro que fazia esse papel? Isso mesmo, no primeiro momento duvidei de que estava vendo o Rodrigo Santoro. Fantástico!! Isso é entrega, seriedade e profundidade no trabalho como ator.
Me emocionei muito com a história de Heleno e com a entrega de Rodrigo.
Depois do filme, mais dois nomes foram incluídos na lista de minhas paixões: Heleno de Freitas e Rodrigo Santoro - ambos emocionadores.
PS: não sei se a palavra "emocionador" existe, mas no meu dicionário particular significa aquele que provoca emoção forte.
PS': ao que parece Santoro é vascaíno.

Barthes e suas lições

"Eu tento, portanto, permitir-me ser possuído pela força de toda a vida viva: o esquecimento...
Há um tempo quando se ensina aquilo que se sabe.
Mas há um tempo que se segue quando se ensina aquilo que não se sabe.
Talvez agora chegue o tempo de outra experiência: a de desaprender, quando a gente se permite estar à mercê das transformações imprevisíveis que o esquecimento impõe à sedimentação de todos os tipos de conhecimento, de culturas, de crenças... Essa experiência, eu creio, tem um nome ilustre e antiquado, que ouso tomar aqui sem um pingo de vergonha, no lugar preciso da etimologia: sapientia:
nenhum poder,
uma pitada de conhecimento,
uma pitada de sabedoria,
e o máximo possível de sabor..."

Que minha vida seja um eterno e saboroso "desaprendizado"!! Gostaria de ser como o Alberto Caeiro e ver o mundo pela primeira vez, todos os dias. Assim, como o a criança, meu mundo seria mais lúdico e muuuuito mais saboroso!!!
Desaprender é aceitar o imponderável da vida, afinal, como diz Woody Allen, a vida tem vida própria!!

PS: o texto do Roland Barthes é parte de sua aula inaugural no Collège de France e foi transcrita no livro "Aula", publicado pela Cultrix.

terça-feira, 10 de abril de 2012

E por falar em Rio de Janeiro...











Fotos tiradas com meu celular, em jan/12: três do Rio (duas da vista do Parque das Ruínas e uma de uma Igreja em Sta Teresa) e uma da vista da Ilha do Araújo, em Paraty





Duas paixões: Mar e Rubem Alves


Entre o porto e o mar,

eu prefiro o mar...




Lições de Feitiçaria - Rubem Alves

Pessoa falando de pessoas

São os sentimentos que conduzem as sociedades, não as ideias.


Fernando Pessoa

sexta-feira, 23 de março de 2012

A Moreninha




Ontem me falaram desse livro. Lembrei-me da Ilha de Paquetá, lugar que adoro e me traz boas lembranças. Queria reler o romance do Macedo nas sombras das árvores de Paquetá, onde o tempo parece não ter nenhuma importância.








- Seja dado ao homem agonizante lançar seus últimos pensamentos do leito da morte, além dos anos, que já não serão para ele, e penetrar com seus olhares através do véu do futuro!... (...) Eu não vos iludo... vejo lá... bem longe... a promessa realizada! São dois anjos que se unem... vede!... (...) Meus filhos, eu vos vejo casados lá no futuro!...
- Oh!... eis aí outra vez o delírio!... disse a velha vendo a exaltação e o semblante afogueado do enfermo.
- Não (...) Não é delírio... Pois o quê!... não pode o Eterno abençoar a virtude pela minha boca?
(...)
Escutando suas palavras, eu acreditei que estávamos ouvindo uma profecia infalivelmente realizável, pronunciada por um inspirado do Senhor.
(...) O doente, cujas forças pareciam haver reaparecido subitamente, apoiando-se sobre um dos cotovelos, abriu a gaveta de uma mesa, que estava junto de seu leito, e tirando de uma pequena e antiga caixa dois breves, os deu à velha, dizendo:
- Minha mãe, descosa esses dois breves.
A velha, obedecendo pontualmente, os descoseu com prontidão. Os breves eram dois: um verde e outro branco.
Depois o ancião, voltando-se para mim, disse:
- Menino! que trazeis convosco que possais oferecer a esta menina?...
Eu corri com os olhos tudo que em mim havia e só achei (...) um lindo alfinete de camafeu, que meu pai me tinha dado para trazer ao peito e, maquinalmente, pus-lhe nas mãos o meu camafeu.
O velho quebrou o pé do alfinete e dando-o a sua mãe, acrescentou:
- Minha mãe, cosa dentro do breve branco este camafeu.
E voltando-se para minha bela camarada, continuou:
- Menina! que trazeis convosco que possais oferecer a este menino?...
A menina (...) entregou-lhe um botão de esmeralda que trazia em sua camisinha. O velho o deu à sua mãe, dizendo:
- Minha mãe, cosa esta esmeralda dentro do breve verde.
Quando as ordens do ancião foram completamente executadas, ele tomou os dois breves e, dando-me o de cor branca, disse-me:
- Tomais este breve, cuja cor exprime a candura da alma daquela menina. Ele contém o vosso camafeu: se tendes bastante força para ser constante e amar para sempre aquele belo anjo, dai-lho, a fim de que ela o guarde com desvelo.
Eu mal compreendi o que o velho queria (...) entreguei o breve à linda menina, que o prendeu no cordão de ouro que trazia ao pescoço.
Chegou a vez dela. O nosso homem deu-lhe o outro breve, dizendo:
- Tomai este breve, cuja cor exprime as esperanças do coração daquele menino. Ele contém a vossa esmeralda: se tendes bastante força para ser constante e amar para sempre aquele bom anjo, dai-lho, a fim de que ele o guarde com desvelo.
Minha bela mulher executou a insinuação do velho com prontidão, e eu prendi o breve ao meu pescoço com uma fita que me deram.
Quando tudo isto estava feito, o velho prosseguiu ainda:
- Ide, meus meninos; crescei e sede felizes! vós olhastes para mim, pobre e miserável, e Deus olhará para vós...








Link para o livro do Joaquim Manuel de Macedo, no Domínio Público:







Os Lusíadas

"Não se aprende, Senhor, na fantasia,

sonhando, imaginando ou estudando,

senão vendo, tratando, pelejando"



(Os Lusíadas, Canto X, estrofe 153)




Embora o Camões estivesse se referindo à disciplina militar, acho que serve pra qualquer aspecto da vida. De minha parte, posso afirmar que tenho aprendido muito na "lida" da vida.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Isabel Allende

Pela primeira vez, estou lendo Isabel Allende. Ando me deliciando com as histórias das mulheres do livro "Contos de Eva Luna".
Um trechinho que particularmente me agradou:

- Nem sequer me olha, avô. É rica, bela, nobre, tem tudo. (...) Se pelo menos me deixasse falar-lhe!
- Falar-lhe? Para quê? Não há nada a dizer a uma mulher como essa, filho.
- Ofereci-lhe um colar de rainha e ela o devolveu sem uma única palavra.
- Dá-lhe qualquer coisa que ela não tenha.
- O que, por exemplo?
- Um bom motivo para rir, isso nunca falha com as mulheres.


Pura verdade!! Não sou rica, nem bela, nem nobre, mas confesso que é quase impossível resistir a um homem que me faça rir. ;)
Se quiser saber se a tática deu certo com o apaixonado aí de cima, leia o conto "Presente para uma noiva".

Camões



Sempre gostei do Camões.


Hoje, navegando na net, vi essa imagem com um poema dele, um dos meus preferidos.


Fico pensando que ele escreveu isso lá pelo século 16 e é atualíssimo!! Genial!!!





Link da imagem:

quarta-feira, 21 de março de 2012

Mais Drummond: Parolagem da vida

Como a vida muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é nula.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.
Tudo que se perde
mesmo sem ter ganho.
Como a vida é senha
de outra vida nova
que envelhece antes
de romper o novo.
Como a vida é outra
sempre outra, outra
não a que é vivida.
Como a vida é vida
ainda quando morte
esculpida em vida.
Como a vida é forte
em suas algemas.
Como dói a vida
quando tira a veste
de prata celeste.
Como a vida é isto
misturado àquilo.
Como a vida é bela
sendo uma pantera
de garra quebrada.
Como a vida é louca
estúpida, mouca
e no entanto chama
a torrar-se em chama.
Como a vida chora
de saber que é vida
e nunca nunca nunca
leva a sério o homem,
esse lobisomem.
Como a vida ri
a cada manhã
de seu próprio absurdo
e a cada momento
dá de novo a todos
uma prenda estranha.
Como a vida joga
de paz e de guerra
povoando a terra
de leis e fantasmas.
Como a vida toca
seu gasto realejo
fazendo da valsa
um puro Vivaldi.
Como a vida vale
mais que a própria vida
sempre renascida
em flor e formiga
em seixo rolado
peito desolado
coração amante.
E como se salva
a uma só palavra
escrita no sangue
desde o nascimento:
amor, vidamor!

(Parolagem da Vida - Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 12 de março de 2012

Steve McCurry

Em dezembro do ano passado, eu convidei meus amigos pra assisitir a uma exposição do Steve McCurry, que estava no Instituto Tomie Otake, em São Paulo.

Uma das fotos que mais me marcou foi a "Tempestade de poeira", de 1983. Suas cores vibrantes impressionam. Ela foi tirada na fronteira entre a Índia e o Paquistão, quando o fotográfo precisou interromper sua viagem por causa de uma tempestade de areia.

Contudo, o que mais gostei foi o que o McCurry disse ser a lição aprendida com essa experiência:

"Você não pode ficar preso no que pensa ser o seu destino. A jornada é tão importante quanto o destino. Você tem que estar preparado e aberto para o que você está vendo ao longo do caminho."

Será que o fotógrafo da National Geographic conhecia o Guimarães Rosa?

No livro Grande Sertão: Veredas, o mineiro afirma que "o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe é no meio da travessia"

Que no meu caminho haja sempre tempestades tão belas quanto as do McCurry!
Que minha travessia seja permeada de poesia e sabedoria, como as veredas do Rosa!
E, o mais importante, que eu tenha olhos pra ver e sensibilidade pra sentir a beleza, a poesia e a sabedoria!!!


Ah, se você gostou da foto, veja outras, clicando no link abaixo:

sexta-feira, 2 de março de 2012

Todos os dias são meus

Hoje meu trabalho exigiu o extremo sacrifício de ler Fernando Pessoa...
Pro "sacrifício" valer a pena, compartilho com vocês um pouco da genialidade desse poeta:

"Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus."



(Fernando Pessoa/Alberto Caeiro; Poemas Inconjuntos; escrito entre 1913-15; publicado em Atena nº 5, Fevereiro de 1925.)

PS: Não pude deixar de pensar no que ele diria desses tempos de super-exposição digital da intimidade...

domingo, 26 de fevereiro de 2012

As três palavras mais estranhas

Quando pronuncio a palavra Futuro,
A primeira sílaba já se perde no passado.

Quando pronuncio a palavra Silêncio,
suprimo-o

Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não ser


Esse poema é da escritora polonesa Wislawa Szymborska, cujo primeiro livro em Português - Poemas - foi lançado no ano passado.
Sua ironia pode ser sentida na "degustação" que está disponível no site da Companhia das Letras.

http://companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=13056

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Mas todo romance tem que ser necessariamente uma coisa bela?, pergunta a personagem ainda no início de Beleza e tristeza. A pergunta fica suspensa no ar, ninguém lhe responde. Nem o autor. Kawabata, o faz, como narrador. A resposta seria: talvez não. bbb Ou talvez sim, um romance se torna necessariamente uma coisa bela ainda que feito de coisas "feias". O que um romance não tem necessariamente de ser é incômodo. Quem sabe apenas os grandes romances incomodem.




(Teixeira Leite, no prefácio do livro Beleza e tristeza, de Yasunari Kawabata, ed Globo, 2008)


Ardente e silenciosamente, se acariciaram durante horas, tremendo não por se descobrirem, mas por se reconhecerem, como se num mundo esquecido se tivessem amado. E quando seus corpos se fundiram não havia mais espaço, não havia mais tempo - só a eternidade em cada instante.




(Em nome da princesa morta, Kenizé Mourad, ed Globo, p. 453)
"O quarto nupcial desaparece sob montões de flores. Sobre bandejas de prata, frutos e doces estão dispostos em pirâmides. Nos queimadores colocados nos quatro cantos do aposento, o almíscar e o sândalo se consomem. No meio, ressalta-se o leito, imenso, guarnecido de cetim branco e borbotões de renda.
(...)
Há muito tempo a noiva está pronta. Apoiada em seu travesseiro ela espera. Que faz Amir?
(...)
O tempo passa. O que ela parece, sozinha nesse grande leito? Humilhada, Selma aperta os lábios: não demonstra sua confusão.
Após uma hora, finalmente, Amir aparece. Estava com sua irmã (...) que tinha um problema urgente pra resolver. Selma está ferida. Um problema urgente... provavelmente inventado em seus mínimos detalhes (...) para mostrar publicamente seu poder diante da nova esposa. (...)
- O que há, minha querida? - Amir se deteve à beira da cama. Olha sua jovem esposa com inquietude - A senhora está passando mal?
Com a cabeça enfiada nos travesseiros, Selma soluça.
- Vou chamar um médico.
- Não!
Muito vermelha, ela se ergue. Então, ele não compreende nada.
Amir hesita. Que fazer? Ela parece enfurecida. "Será que disse alguma coisa que a ofendeu? Ela parecia tão feliz durante a cerimônia! O que aconteceu?" Tem vontade de apertá-la em seus braços, consolá-la, mas não ousa: com certeza vai repeli-lo.
"... Por que ele está ali a me olhar? Estou com frio. Se ele pudesse me tomar contra ele, abraçar-me, aquecer-me..."
"Como sou imbecil!" pensa ele. "A pobre está simplesmente atemorizada. provavelmente, está pensando que vou me precipitar sobre ela, usar de meus direitos. Não compreende que a respeito. Esperarei que se habitue comigo. Tenho muito tempo."
Ele sentou-se à beira da cama.
- Essse dia foi cansativo, a senhora precisa dormir. Não a perturbarei.
Estupefata, Selma o olhou: "Está brincando? Será que ela é tão pouco desejável? Ela sonhara tanto com esse momento. "Que tola! No entanto, sabia que não era um casamento de amor: pois bem, ele lhe faz simplesmente compreender que ela não lhe agrada."
Intrepidamente, ergue os ombros e, com ar indiferente, diz:
- De fato, estou cansada. Boa noite.
Encolheu-se do outro lada da cama. Amir suspira. Esperava pelo menos um sorriso, uma palavra afetuosa, sinal de que apreciava sua delicadeza. Ele, por sua vez, estende-se suavemente para não perturbá-la. Há meses contemplava sua foto e esperava se encontrar ao lado dela. Não foi assim que imaginara sua noite de núpcias."
( Em nome da princesa morta, de Kenizé Mourad - Ed Globo, 1988, p.255/256)

Quando li esse texto, fiquei pensando em quantas vezes não vivi mal entendidos pela simples razão de não mostrar meus sentimentos. E por que às vezes resisto em mostrar o que sinto? Por que tenho medo de ser ridícula, de ser rejeitada, de passar por boba, de... de... de... São tantos os motivos! (e os medos!)
Mas todos os motivos têm, de alguma maneira, relação com o fato de me ter em alta conta, com meu orgulho (orgulho é diferente de autoestima). Sempre tento me lembrar de não me levar tão a sério.
Muito tempo antes de ler esse texto eu já havia pensado essas coisas (postei o texto porque o achei emblemático) e percebi quão desatrosos podem ser o orgulho, a necessidade de se proteger e a falta de vontade de ver o outro com olhos amorosos.
Que Deus me dê sabedoria para discernir quando estou sendo muito orgulhosa e pouco amorosa com meus queridos!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012











O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se não a vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.



Todo eu sou qualquer força que abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


(Alberto Caeiro, em O pastor amoroso)
Ontem fui bruscamente tragada para dentro de um sebo, que há pouco foi inaugurado, perto de minha casa.
Só consegui sair de lá depois de muita luta e sob a escolta do Alberto Caeiro e do Yasunari Kawabata.
Não encontrei com quem queria - Adélia Prado - mas não posso me queixar, saí em muito boa companhia, que compartilho com vocês:

II
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo comigo
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

(Alberto Caeiro , em O guardador de rebanhos)


XIII
Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve,
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.

(Alberto Caeiro, em O guardador de rebanhos)

Aceita o universo
Como to deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.

Se há outras matérias e outros mundos...
Haja.

(Alberto Caeiro, em Poemas Inconjuntos)

Ainda não posso compartilhar nada do Kawabata, pois primeiro tenho que terminar o romance que estou lendo agora pra depois começar o dele. Mas confesso que estou numa curiosidade! Ainda bem que o carnaval está ai!!!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Em nome da princesa morta




"Durante algumas semanas, ela vai se esforçar para encontrar essa emoção e esse sofrimento que a tranquilizam (...) Em vão. Tem o sentimento de ter realmente perdido tudo, agora que perdeu até seu desgosto"






(do livro Em nome da princesa morta, de Kinizé Mourad, Ed Globo, 1988, p. 169)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Eu quero você
desesperadamente

Quero você
como quero um cobertor
como quero um copo d'água
como quero pão
como quero minha casa e meus livros

Quero você
pra alimentar meu corpo
afagar meu coração
estimular minha mente
aquecer minha alma
fazer meu espírito voar

Eu quero você
desesperadamente
pra te aconchegar no meu colo e
fazer você sonhar

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Azul

Outro dia estava fuçando em minhas anotações e me deparei com essa aí. Não faço ideia do porquê a anotei. Talvez porque azul seja uma de minhas cores favoritas? (Ou será que é a favorita?)

"O azul é a mais profunda das cores: nele, o olhar mergulha sem encontrar qualquer obstáculo, perdendo-se até o infinito, como diante de uma perpétua fuga da cor.
O azul é a mais imaterial das cores: a natureza o apresenta geralmente feito apenas de transparência, isto é, de vazio acumulado, vazio de ar, vazio de água, vazio de cristal ou diamante.
O azul é exato, puro e frio."

Dicionário de Símbolos – Jean Chevalier e Alain Gheerbrant

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Fotos de SP

Já que não consigo escrever - e olha que não é por falta de assunto ou vontade - posto essas fotos, que tirei no último fim de semana, quando mostrei parte de SP para um amigo carioca.



Catedral da Sé


Estátua em frente ao Pátio do Colégio




Café Girondino, com o Mosteiro de S. Bento ao fundo




Interior do Café Girondino





Mosteiro de São Bento - fachada e vitral

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Rubem Alves

Ontem, estava lendo o Rubem Alves. O nome do livro é "Desfiz 75 anos".
Acho que é seu livro mais recente - ia escrever último livro, mas quero que ele esccreva muitos mais!!

"É inútil viajar para outros lugares se não conseguimos desembarcar de nós mesmos" (p.12)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Muito pouco

Esses dias me lembrei dessa música, do Paulinho Moska

As horas nunca andam para trás
Todo dia é dia de aprender um pouco
Do muito que a vida trás
Mas muito pra mim é tão pouco
E pouco é um pouco demais
Viver tá me deixando louco
Não sei mais do que sou capaz
Gritando pra não ficar rouco
Em guerra lutando por paz
Muito pra mim é tão pouco
E pouco eu não quero (mais)


Paulinho Moska - Muito Pouco

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Com suas mãos,

você me eleva às alturas,

onde pesco uma estrela intensa

para retribuir o brilho

que você depositou em mim