tag:blogger.com,1999:blog-68973713755000856632024-03-13T08:45:07.200-04:00clepsidro-meClepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.comBlogger208125tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-70297313143658300892016-01-11T10:41:00.003-04:002017-01-11T09:50:30.021-04:00Trouxeste a chave?Em uma cena do filme "O jogo da imitação", Alan Turing pergunta a seu amigo:<br />
- O que está lendo?<br />
- É sobre criptografia.<br />
- Tipo mensagens secretas?<br />
- Não são secretas. Essa é a beleza. Mensagens todos veem, mas ninguém entende, a menos que tenha a senha.<br />
- Qual a diferença de falar?<br />
- Falar?<br />
- Quando as pessoas conversam nunca falam o que querem. Dizem outra coisa e esperam que você entenda o que querem dizer. Mas eu nunca entendo. Então, qual a diferença?<br />
- Alan, algo me diz que você será muito bom nisso - diz o amigo, dando o livro sobre criptografia a Alan.<br />
<br />
<br />
Quando vi a cena, pensei na incomunicabilidade entre as pessoas, ou melhor, no eterno e inútil esforço do homem se comunicar com o outro: somos todos enigmas, para o outro e para nós.<br />
Esse pensamento me levou à Clarice Lispector, a quem esse tema era caro, e, em seguida, à literatura de forma mais ampla. Será a literatura uma espécie de criptografia da alma? Será que nossas almas são criptografadas, sem que tenhamos a senha?<br />
Impossível não lembrar Drummond e seu "Procura da poesia":<br />
<br />
"Penetra surdamente no reino das palavras.<br />
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.<br />
Estão paralisados, mas não há desespero,<br />
há calma e frescura na superfície intata.<br />
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.<br />
<br />
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.<br />
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.<br />
Espera que cada um se realize e consume<br />
com seu poder de palavra<br />
e seu poder de silêncio.<br />
Não forces o poema a desprender-se do limbo.<br />
Não colhas no chão o poema que se perdeu.<br />
Não adules o poema. Aceita-o<br />
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada<br />
no espaço.<br />
<br />
Chega mais perto e contempla as palavras.<br />
Cada uma<br />
tem mil faces secretas sob a face neutra<br />
e te pergunta, sem interesse pela resposta,<br />
pobre ou terrível que lhe deres:<br />
Trouxeste a chave?"Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-90383890502389472382015-05-06T11:18:00.001-04:002020-04-02T16:28:08.584-04:00Nostalgia<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Há muitos anos (uns 20?), eu frequentava uma livraria pertinho da minha casa. Já conhecia o dono e os vendedores, que eram realmente apaixonados por livros e com quem eu adorava conversar - às vezes passava lá só pra falar um oi e dar um dedo de prosa. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Já era da casa: quando eu chegava, eles vinham me cumprimentar e depois me deixavam fuçar as prateleiras à vontade, sem pressão pra comprar, mas sempre com muita disposição pra me ajudar a encontrar o que eu queria. Eu tinha até acesso ao "porão", lugar vetado aos clientes comuns e onde eu passava um bom tempo, remexendo em títulos que ainda não tinham ido para as prateleiras. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">E quando tinha novidade de meus autores favoritos (que eles sabiam de cor), lá vinham eles com o livro: "Olha o que chegou. Você vai gostar..." </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Sem falar que encontravam tudo quanto é livro que eu queria - era só encomendar e segurar a ansiedade da espera! </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Hoje o local é um instituto de depilação, sempre que entro lá e dou de cara com o jardim interno, bate uma nostalgia!! </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ai, que saudades da "minha livraria": do tempo que passava lendo naquele jardim e dos meus amigos de lá. </span></div>
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">PS: Essas recordações vieram à tona por conta da matéria abaixo:</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
http://followthecolours.com.br/just-coolt/9-livrarias-independentes-que-voce-precisa-descobrir-em-sp/<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-8UBDT2xdu54/VUov2WSx32I/AAAAAAAAMW8/dDaVrL1_TZo/s1600/509579339.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="222" src="https://4.bp.blogspot.com/-8UBDT2xdu54/VUov2WSx32I/AAAAAAAAMW8/dDaVrL1_TZo/s1600/509579339.jpg" width="320" /></a></div>
<br />Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-84584334934893172862014-08-22T10:09:00.004-04:002015-05-06T11:20:24.437-04:00<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Noite escura</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">só o canto</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">do sabiá boêmio</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">ilumina o silêncio</span></div>
Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-47323765282723461702014-07-31T10:29:00.001-04:002014-08-22T10:10:19.340-04:00Dia 19 de julho morreu Rubem Alves.<br />
Na ocasião, eu não consegui nem comentar, fiquei imensamente triste. Quando penso, chego até a marejar (eu inteira e não apenas meus olhos).<br />
Ele era um amigo e tanto - não, nunca fui íntima dele, mas isso pouco importa. O que importa é que ele era meu amigo íntimo e me apoiou em muitos dilemas profissionais e pessoais.<br />
Quando mudava de casa, uma das mais importantes providências era marcar a caixa onde estavam seus livros, junto com os de outros amigos, pra qualquer eventualidade - era como ter um remédio mágico/poético sempre à mão.<br />
Ele participou, à revelia, de uma das piores chantagens que me fizeram: faça isso e te levo pra tomar um café com o Rubem Alves! (Nossa, como foi difícil manter minha decisão!).<br />
Nessa hora lembro de outro grande amigo - o Manuel Bandeira - que escreveu um poema sobre o Mário de Andrade.<br />
O poema chama-se "O Mário de Andrade Ausente":<br />
<br />
Anunciaram que você morreu.<br />
Meus olhos, meus ouvidos testemunharam:<br />
A alma profunda, não.<br />
Por isso não sinto agora a sua falta.<br />
Sei bem que ela virá<br />
(Pela força persuasiva do tempo).<br />
Virá súbito um dia,<br />
Inadvertida para os demais.<br />
Por exemplo assim:<br />
À mesa conversarão de uma coisa e outra.<br />
Uma palavra lançada à toa<br />
Baterá na franja dos lutos de sangue.<br />
Alguém perguntará em que estou pensando,<br />
Sorrirei sem dizer que em você<br />
Profundamente.<br />
<br />
Mas agora não sinto a sua falta.<br />
(É semrpe assim quando o ausente<br />
Partiu sem se despedir:<br />
Você não se despediu.)<br />
<br />
Você não morreu: ausentou-se.<br />
Direi: Faz tempo que ele não escreve.<br />
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.<br />
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.<br />
<br />
Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?<br />
A vida é uma só. A sua continua<br />
Na vida que você viveu.<br />
Por isso não sinto agora a sua falta.<br />
<br />
#RubemAlves<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-82332208524882152832014-02-25T16:57:00.000-04:002015-05-06T11:22:12.056-04:00<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">Pois onde quer que o sol nasça e se ponha, seja no tumulto da cidade ou sob o céu aberto da fazenda, a vida é muito semelhante; às vezes amarga, às vezes doce. </span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">do filme Aurora, de F. W. Murnau</span></div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-83684313331371974852014-02-25T16:49:00.000-04:002014-02-25T16:50:03.570-04:00<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">- Escute, senhor inspector: o crime que está sendo cometido aqui não é esse que o senhor anda à procura.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">- O que quer dizer com isto?</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">- Olhe para esses velhos, inspector. Eles todos estão morrendo.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">- Faz parte do destino de qualquer um de nós.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">- Mas não assim, o senhor entende? Estes velhos não são apenas pessoas.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">- São o quê, então?</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">- São guardiões de um mundo. É todo esse mundo que está sendo morto.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">- Desculpe, mas isso, para mim, é filosofia. Eu sou um smples polícia.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">- O verdadeiro crime que esta a ser cometido aqui é que estão a matar o antigamente...</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">- Continuo sem entender.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">- Estão a matar as últimas raízes que poderão impedir que fiquemos como o senhor...</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">- Como eu?</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">- Sim, senhor inspector. Gente sem história, gente que existe por imitação.</span><br />
<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><i>Mia Couto, em A varanda do frangipani</i></span></div>
<br />
<br />Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-31119297753241098442014-01-10T09:09:00.000-04:002014-01-10T09:14:21.180-04:00Conforto<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">"Conforto não é uma poltrona fácil, é um estado de calma, quando o corpo, o olhar, a mente estão em relaxamento.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">Quero algo que se encaixe com meu modo de vida, com apenas o necessário para viver e nada mais, onde família e amigos compartilhem o sentimento de se viver em casa."</span></div>
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">John Pawson, arquiteto inglês.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Severina - abril/2013</span></div>
Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-24935639057057291442013-11-18T11:53:00.002-04:002013-11-18T11:58:45.344-04:00Na foto,<br />
tirada há 50 anos,<br />
vi um menino.<br />
Causou-me espanto.<br />
<br />
Espantou-me não a diferença, mas a semelhança.<br />
O nariz bradava: sou o mesmo.<br />
Os olhos e o sorriso, também reconheci: francos como eu os sabia.<br />
<br />
A expressão do rosto,<br />
misto de alegria e curiosidade,<br />
atestava: sou eu, ainda que cem anos<br />
me distanciem do meu retrato.<br />
<br />
Minha alma aquietou-se:<br />
desde sempre é assim.Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-8914839469121706342013-11-18T11:34:00.000-04:002013-11-18T11:43:53.538-04:00Amante<br />
das orquestras<br />
do cinema<br />
do vinho<br />
do charuto<br />
das sereias perfumadas<br />
das mulheres<br />
das artes<br />
<br />
Manda chuva<br />
que não manda no coração<br />
<br />
Malcriado<br />
orgulhoso de sua malcriação<br />
<br />
Desalmado<br />
que não sabe o fazer<br />
com a sensibilidade da alma<br />
<br />
Que o tempo equilibre alma e desalma,<br />
Que Apolo e Dionísio o abençoem!!<br />
<br />
<br />
jun/13<br />
<br />
<br />Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-47564908300086290412013-06-22T10:30:00.004-04:002013-06-22T10:32:14.576-04:00<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Amor não é carência.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">É uma suficiência insaciável.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Fabrício Carpinejar</span></div>
Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-63910896181156367882013-06-17T12:03:00.000-04:002013-06-17T12:03:58.186-04:00<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">a neblina</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">a garoa</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">o som grave do sino</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">o cheiro de mato</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">o barulho do trem</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">o frio da serra</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">o som dos rios</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">espero todos esses presentes</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">que suas asas encantadas</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">me trarão</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">encantamento e beleza</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">tem um só nome:</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">saudade</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;">(escrito em 31/05/13)</span>Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-72968195934263495182013-05-21T16:22:00.000-04:002013-05-21T16:22:12.680-04:00Sensibilidade roubada<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-large;">Nesse Tempo, como somos imortais, pra que Futuro?</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">(roubada de um desalmado)</span></div>
Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-52140034712480514152013-05-10T21:19:00.004-04:002013-05-10T21:21:14.160-04:00O tempo todo<br />
eestava consciente de sua presença,<br />
sensível ao seu toque sutil<br />
na minhas costas.<br />
<br />
Toque imperceptível para os outros,<br />
indelével para mim.<br />
<br />
Não toda a palma da mão,<br />
apenas as pontas dos dedos,<br />
fazendo uma leve pressão nas minhas costas.<br />
<br />
Como se dissesse:<br />
"Estou aqui".<br />
Como se fosse<br />
preciso me dizer isso...<br />
<br />
Através da blusa fina,<br />
sentia o calor de seus dedos,<br />
que se espalhava pelo meu corpo<br />
<br />
Se o desejo<br />
precisa de apenas uma fagulha,<br />
estava ali anunciado<br />
um incêndio...<br />
<br />Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-45683274622586879752013-04-30T14:28:00.000-04:002013-07-15T15:48:11.348-04:00Solidão<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-Ui76nqIUqW0/UeRRoutR4II/AAAAAAAACpg/uZjtOvUNSOg/s1600/IMG_20130507_235015_888.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-Ui76nqIUqW0/UeRRoutR4II/AAAAAAAACpg/uZjtOvUNSOg/s320/IMG_20130507_235015_888.jpg" width="180" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
Solidão é o vagão<br />
do Metrô completamente vazio<br />
no infinito percurso<br />
de 6 estações.<br />
<br />
O silêncio se arrasta,<br />
ao som das escadas rolantes.Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-16250086581521920972013-04-29T10:58:00.000-04:002013-05-02T08:56:53.205-04:00Histórias"Bem, talvez a gente seja feliz demais."<br />
"É, pois é, já faz um tempo que eu andava querendo conversar sobre isso com você. Seria muito melhor se você pudesse me fazer um pouco mais infeliz."<br />
"Pare com isso. Estou falando de história. Como nos conto de fadas: 'E eles viveram felizes para sempre' é sempre a última frase."<br />
"Me faz uma gentileza: seja um pouco mais clara."<br />
Ah, você sabia exatamente o que eu queria dizer. Não é que a felicidade fosse insípida É que ela não dava uma boa narrativa. E uma das nossas melhores e maiores distrações, com a velhice, é recitar, não só para os outros, como também para nós mesmos, nossa própria história. Eu sou mestre nisso: fujo da minha história todo dia e ela me persegue como um vira-latas abandonado. Por isso mesmo, um aspecto meu que mudou da juventude para cá é que agora considero as pessoas com pouca ou nenhuma história para contar como tremendamente afortunadas."<br />
<br />
Lionel Shriver, In: Precisamos falar sobre o KevinClepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-50779718686380746672013-04-29T10:45:00.000-04:002020-04-02T16:22:11.318-04:00Línguas que não sabemos que sabíamos <span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. Mal ele inicia a narração, ela o faz parar:</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">_ Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Desconhecida? - pergunta ele.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano. Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino James Joyce chamava de "caosmologia" a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.</span><br />
<br />
Mia Conto, no texto Línguas que não sabemos que sabíamos, do livro E se Obama fosse africano.Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-2225504217498163022013-04-28T11:44:00.002-04:002013-04-28T11:44:54.693-04:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-tPk2s8fUWOM/UX1DvnPdEVI/AAAAAAAABPo/pFZugOvj0D0/s1600/IMG_1970.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="http://2.bp.blogspot.com/-tPk2s8fUWOM/UX1DvnPdEVI/AAAAAAAABPo/pFZugOvj0D0/s320/IMG_1970.JPG" width="320" /></a></div>
<br />Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-81646673131886652802013-04-28T11:32:00.004-04:002020-04-02T16:23:20.137-04:00Black & WhiteLibertos de todas as amarras,<br />
misturam<br />
as flores,<br />
as cores, e<br />
das cores<br />
saboreiam o prazer.<br />
<br />
Amantes da loucura,<br />
que guarda seus eternos segredos<br />
Vida que aflora das minas<br />
Minas de prazer e desassossego.<br />
<br />
(julho/2005)Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-62452669896296620522013-04-25T09:40:00.000-04:002013-04-25T09:41:30.167-04:00Resposta a Joaquim<span style="background-color: #fafbfb; color: #4e5665; line-height: 12.727272033691406px;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"><br /></span></span>
<span style="font-size: large;">O amor comeu tudo</span><br />
<span style="font-size: large;">Ou quase tudo</span><br />
<span style="font-size: large;">O amor não tragou meu desejo,</span><br />
<span style="font-size: large;">Que ousado o desafia:</span><br />
<span style="font-size: large;">Decifra-me </span><br />
<span style="font-size: large;">Ou devoro-te</span><br />
<br />
<br />
PS: No caso, o Joaquim é João. Para entender, veja o poema "os três mal-amados", de João Cabral de Melo NetoClepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-2321358357747596152013-04-10T10:53:00.000-04:002020-04-02T16:23:42.973-04:00Ítaca<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-pNTemH5ArUE/UWV8eAW1JcI/AAAAAAAABC8/Y5A5bnObCqE/s1600/itaca.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-pNTemH5ArUE/UWV8eAW1JcI/AAAAAAAABC8/Y5A5bnObCqE/s1600/itaca.jpg" /></a></div>
<br />
Hoje eu li alguns poemas do Alexandrino Konstantinos Kávafis e um deles - Ítaca - me chamou especial atenção, talvez porque ainda não aprendi a lição que ele encerra. Ei-lo:<br />
<br />
Se partires um dia rumo à Ítaca,<br />
faz votos de que o caminho seja longo, repleto de aventuras, repleto de saber.<br />
Nem Lestrigões nem os Ciclopes<br />
nem o colérico Posídon te intimidem;<br />
eles no teu caminho jamais encontrarás<br />
se altivo for teu pensamento, se sutil<br />
emoção teu corpo e espírito tocar.<br />
Nem Lestrigões nem os Ciclopes<br />
nem o bravio Posídon hás de ver,<br />
se tu mesmo não os levares dentro da alma, se tua alma não os puser diante de ti.<br />
<br />
<br />
Faz votos de que o caminho seja longo.<br />
Numerosas serão as manhãs de verão<br />
nas quais, com que prazer, com que alegria, tu hás de entrar pela primeira vez um porto<br />
para correr as lojas dos fenícios<br />
e belas mercancias adquirir:<br />
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,<br />
e perfumes sensuais de toda espécie,<br />
quanto houver de aromas deleitosos.<br />
A muitas cidades do Egito peregrina<br />
para aprender, para aprender dos doutos.<br />
<br />
<br />
Tem todo o tempo Ítaca na mente<br />
Estás predestinado a ali chegar.<br />
Mas não apresses a viagem nunca.<br />
Melhor muitos anos levares de jornada<br />
e fundeares na ilha velho enfim<br />
rico de quanto ganhaste no caminho<br />
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.<br />
Uma bela viagem deu-te Ítaca.<br />
Sem ela não te ponhas a caminho.<br />
Mias do que isso não cumpre dar-te.<br />
<br />
<br />
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.<br />
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência<br />
e agora sabes o que significam Ítacas.<br />
<br />
(<i>Poemas</i>, tradução de José Paulo Paes, Ed Nova Fronteira, 1982)<br />
<br />Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-75980774199593447072013-03-27T12:02:00.000-04:002013-03-27T12:02:10.524-04:00Fumaça,<br />
ainda que de incenso,<br />
mas fumaça.<br />
<br />
Imagem holográfica,<br />
ainda que bela,<br />
mas ilusória.<br />
<br />
Projeção do meu eu,<br />
sedutor,<br />
mas mera projeção.<br />
<br />
A vida não é feita de<br />
fumaça,<br />
imagem,<br />
ou projeção.<br />
<br />
A vida<br />
é feita<br />
de carne e osso,<br />
atos,<br />
fatos,<br />
alimento<br />
pro corpo e pra alma.<br />
<br />
Chega.<br />
<br />
Quero a vida<br />
como ela é.<br />
<br />Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-84638294298040995412013-03-27T11:44:00.001-04:002013-03-27T11:44:19.652-04:00<br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-large; text-align: center;">A dor de uma mulher é arte de</span><br />
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-large;">estrela cadente</span></blockquote>
Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-15746342527379889782013-03-27T11:29:00.000-04:002013-03-27T11:29:04.892-04:00Fui sabendo de mimFui sabendo de mim<span style="color: #464545;">
</span><br />
<span class="conteudo">
por aquilo que perdia
<br />
<br />
pedaços que saíram de mim
<br />
com o mistério de serem poucos
<br />
e valerem só quando os perdia<span style="color: #464545;">
</span><br />
<br />
fui ficando<span style="color: #464545;">
</span><br />
por umbrais<span style="color: #464545;">
</span><br />
aquém do passo<span style="color: #464545;">
</span><br />
que nunca ousei<span style="color: #464545;">
</span><br />
<br />
eu vi<span style="color: #464545;">
</span><br />
a árvore morta<span style="color: #464545;">
</span><br />
e soube que mentia<span style="color: #464545;">
</span><br />
<br />
<i>Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"</i></span>Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-29553812420539459302013-03-27T11:16:00.000-04:002013-03-27T11:16:06.336-04:00Levitando<br />
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-54DTAcTVNpA/UVMLLJyeSDI/AAAAAAAAAzE/oFnrkiKBpAw/s1600/images+(1).jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-54DTAcTVNpA/UVMLLJyeSDI/AAAAAAAAAzE/oFnrkiKBpAw/s1600/images+(1).jpg" /></a>Quero registrar duas frases do último livro que li do Agualusa, o Manual Prático de Levitação:<br />
<br />
<br />
"O passado é como o mar: nunca sossega", do conto Um ciclista; e<br />
<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
"Se nada mais der certo leia Clarice", do conto de mesmo nome.</blockquote>
<br />
Embora tenha adorado essas frases, elas não são do meu conto favorito, o Catálogo de Sombras, em que o autor mistura Fernando Pessoa, Alberto Caeiro candomblé e macumba, além de fazer referência à cidade baiana de Cachoeira, onde estive e me hospedei na Pousada do Convento do Carmo, que também está no conto.Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6897371375500085663.post-44892645222558044442012-10-31T09:10:00.000-04:002012-10-31T09:10:32.961-04:00Cicatrizes<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">"Nas pernas escuras da moça havia muitas cicatrizes brancas pequeninas. E pensei: Será que essas cicatrizes estão no seu corpo inteiro, como as luas e estrelas no seu vestido? Achei que isso também seria bonito, e peço-lhe neste instante que faça o favor de concordar comigo que uma cicatriz nunca é feia. Isto é o que aqueles que produzem as cicatrizes querem que pensemos. Mas você e eu temos de fazer um acordo e desafiá-los. Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado?"</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">(da página 17, do livro "Pequena Abelha", de Chris Cleave)</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">"O vento soprou no sári amarelo e vi uma cicatriz na garganta dela, de um lado a outro, grossa como um dedo mindinho. Branca igual a um osso na pele escura dela. Encalombada e enrolada em torno da traqueia dela como se não quisesse soltá-la. Como se achasse que ainda tinha chance de acabar com ela. Ela me viu olhando e escondeu a cicatriz com a mão, e aí olhei para a mão. Havia cicatrizes na mão também. Combinamos aquilo sobre cicatrizes, eu sei, mas dessa vez desviei o olhar porque às vezes a beleza é demais."</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">(da página 66, do livro "Pequena Abelha", de Chris Cleave)</span>
</div>
Clepsidrahttp://www.blogger.com/profile/12694988227074390231noreply@blogger.com0