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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Os embalos de sábado à noite






Se vocês pensaram que esse post é sobre
o John Travolta ou os anos 70/80,
estão muito enganados.


Na verdade esse texto é sobre uma saborosa e divertida noite de sábado, embalada pelas histórias deliciosas do Mia Couto e do José Eduardo Agualusa (na foto, tirada pela minha mais recente amiga, Ludmilla Jones).




Os dois escritores africanos participaram da Bienal do Livro e eu tive o prazer de ouví-los.



Eu, desde que conheci os livros deles, virei fã incondicional - ano passado passei por uma febre africana, que não havia espaço pra outras culturas na minha estante. Esse ano dei uma variada, por isso ainda não li o último do Agualusa, mas já está na lista e, depois da Bienal, talvez até fure a fila!!





Pelos livros, não podia imaginar quão engraçados eram os dois! Ouvi histórias divertidíssimas.


O Agualusa tem razão ao falar que os africanos salvaram o Brasil da melancolia portuguesa!!



Pra não dizer que tenho preferência por um ou por outro, vou contar uma história de cada! Lá vai, primeiro a do Mia, o poeta que conta histórias.



Ele, que é de Moçambique, diz que quanto menor a cidade, mas sentimentais e calorosas são as despedidas - até parece que não se vai voltar! E não foi diferente quando veio a primeira vez ao Brasil, país sobre o qual os africanos não conhecem muito (assim como nós pouco conhecemos a respeito da África).



Depois das numerosas e intensas despedidas, Mia embarcou para São Paulo. De sua mente não saia a ideia de uma metrópole violenta, na qual estaria exposto a muitos riscos.



Ao chegar no aeroporto, encontrou seu nome escrito numa placa que parecia improvisada. O homem que segurava a placa pareceu-lhe um tipo estranho! Voltou-lhe à mente os perigos da viagem... O estado do veículo que os esperava não tranquilizou nem um pouco o visitante, que já anteviu a tragédia... mas mesmo assim entrou no carro.



Com esses pensamentos na cabeça, percebeu, pelo vidro do carro, a aproximação de um objeto metálico e ouviu uma voz: O senhor quer uma balinha...



Sem saber que "balinha", além de projétil, também significa um tipo de doce, Mia pensou que seria morto pelo assassino mais gentil do planeta!!!



Em uma das inúmeras vezes que esteve no Brasil, o Agualusa teve a seguinte conversa com um taxista:


- De onde o senhor é?
- Sou de Angola - responde o escritor.
- Mas fica em que estado? - retruca o motorista
- Não fica no Brasil. Fica na África.
- Ahhh. Eu queria te parabenizar porque você fala muito bem português!



É realmente impressionante o desconhecimento que temos sobre a África portuguesa e eles sobre nós!! Uma pena, pois a literatura africana lusófona me parece muito rica e seus autores - ao menos os poucos que conheço - são muito instigantes.


Vale a pena ler não só os dois autores citados, mas outros, como o Pepetela, o Manuel Lima, o Rui Duarte de Carvalho (citado com muita emoção no encontro da Bienal), o Ondjaki, entre outros. Muitos estão na minha lista, que engorda dia-a-dia!!



O mais interessante na literatura africana, pra mim, é que ela é muito diversa, assim como o é a África, e por isso mesmo me proporciona várias supresas, não só na linguagem e na língua - que é mesma e é outra -, como na visão de mundo. Cada vez mais me interesso por ela ou por elas, pois como diz o Ondjaki: "porque África são muitas, e várias e tantas".






PS: Claro que a transcrição da conversa entre o Agualusa e o taxista não é literal, é o que minha memória afetiva guardou. Contudo, se você quiser ouvir essa e outras histórias acesse o link abaixo e divirta-se também.



http://www.youtube.com/user/bienaldolivrosp#p/search


Em tempo: Espero que a situação em Maputo - capital de Moçambique - tenha um bom termo.

6 comentários:

  1. Contraí a doença da África nesse dia!! Uma maravilha vê-los conversando e contado histórias diversas! Não tinha lido nenhum livro deles, apenas alguns contos, poesias e entrevistas. Já comprei um livro do Mia Couto (Terra Sonâmbula) e estou gostando muito!! Próximo livro será do Agualusa! (Queria ler o Milagrário Pessoal, mas acho que ele ainda não foi lançado no Brasil)Beijos, e quando tiver novidades, me avisa!!

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  2. Ludmilla, ainda não li esse do Mia. Mas um dos meus preferidos dele é Um rio chamdo tempo, uma casa chamada terra. Adoro o trabalho com a linguagem - realmente me faz lembrar Guimarães Rosa. E o enredo é surpreendente!
    Qto ao Milagrário Pessoal, o lançamento está previsto pra agora (set/10), em Portugal. Vamos torcer pra chegar logo aqui. Tb estou curiosa.
    Por falar nisso, vc sabe se dá pra conseguir o texto ou um video da peça deles - Chovem amores na rua do matadouro? Queria tanto ter visto...
    Beijos

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  3. Oie! Desculpa a demora de responder...rs. Não sei nada sobre essa peça deles, nem como conseguir. No youtube há pouca coisa sobre isso. Você pode tentar mandar uma mensagem pro Agualusa no facebook e torcer pra que ele responda. Perguntei a ele sobre o lançamento do Milagrário Pessoal no Brasil e ele me disse que não tinha previsão ainda.("conversei" com ele online no facebook!) bjinhos

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  4. Ai, que inveeejaaaaaaaaa!!!! Vc tá ficando muito chique!! rsrsrs

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  5. Melhor começar com os livros que o Agualusa já tem publicadou no Brasil. O ano que zumbi tomou o rio, barroco tropical e as mulheres do meu pai, esse último o melhor que ele escreveu. O milagrário pessoal ele dedicou a sua ex- namorada a linda Mafalda Lara Antunes, uma linguista, vai ser um livro cheio de novas palavras, criadas por ele. No Brasil não tem previsão para o lançamento.

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  6. Obrigada pelas dicas. Dos livros do Agualusa que vc citou já li O ano que Zumbi tomou o Rio e As mulheres de meu pai, que eu adoro, especialmente pela surpresa do foco narrativo.
    Assim que terminar o que estou lendo, vou procurar o Barroco Tropical, pois faz tempo que não leio nada dele.
    Não sabia que o Milagrário Pessoal era dedicado a uma ex-namorada, essa informação me parece relevante por ela ser linguista. Estou curiosa pra ler e ver como ele vai levar essa história e quais palavras novas ele inventa.
    Aliás, estou curiosa também pra saber quem é vc e como chegou ao meu blog, já que só os amigos sabem o endereço... rsrs

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