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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Casamento

Por conta de um vídeo postado no Facebook, essses dias estava "discutindo" com uns amigos - a maioria músicos - sobre a mulher fazer a base pros namorados músicos. Claro que a discussão caiu no tema "machismo" (base, no jargão musical é cozinha). Muitos comentários a respeito: alguns indignados e outros de apoio.
Como disse lá no Face, acho essa discussão meio ultrapassada. Será que a gente não aprendeu ainda que nas relações, inclusive as amorosas, cada hora um faz a base pro outro? Se eu não apoiar as pessoas a quem amo e não receber apoio delas, de que serve a relação? Só pra horas boas? Isso me parece bem superficial. Já diz lá em Eclesiastes 4: "Melhor é serem dois do que um, porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante."
Esse papo de machismo e feminismo me fez lembrar de um poema belíssimo da Adélia Prado, cujo título é Casamento.


Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

Acho esse texto lindíssimo pela cumplicidade do casal nas coisas simples do dia a dia. Na minha opinião, esse é o grande segredo de todo relacionamento.
E, a menos que eu esteja vendo coisas, esse é um texto de uma sensualidade penetrante, o que me leva a crer que a cumplicidade faz espocar o erotismo...


PS: o Aurélio traz como sentido figurado de espocar:  desabotoar impetuosamente. Sugestivo, não?   ;)

PS: Texto extraído do livro "Adélia Prado - Poesia Reunida", Ed. Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 252.




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