Por que "clepsidro-me"?!?!

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sexta-feira, 23 de março de 2012

A Moreninha




Ontem me falaram desse livro. Lembrei-me da Ilha de Paquetá, lugar que adoro e me traz boas lembranças. Queria reler o romance do Macedo nas sombras das árvores de Paquetá, onde o tempo parece não ter nenhuma importância.








- Seja dado ao homem agonizante lançar seus últimos pensamentos do leito da morte, além dos anos, que já não serão para ele, e penetrar com seus olhares através do véu do futuro!... (...) Eu não vos iludo... vejo lá... bem longe... a promessa realizada! São dois anjos que se unem... vede!... (...) Meus filhos, eu vos vejo casados lá no futuro!...
- Oh!... eis aí outra vez o delírio!... disse a velha vendo a exaltação e o semblante afogueado do enfermo.
- Não (...) Não é delírio... Pois o quê!... não pode o Eterno abençoar a virtude pela minha boca?
(...)
Escutando suas palavras, eu acreditei que estávamos ouvindo uma profecia infalivelmente realizável, pronunciada por um inspirado do Senhor.
(...) O doente, cujas forças pareciam haver reaparecido subitamente, apoiando-se sobre um dos cotovelos, abriu a gaveta de uma mesa, que estava junto de seu leito, e tirando de uma pequena e antiga caixa dois breves, os deu à velha, dizendo:
- Minha mãe, descosa esses dois breves.
A velha, obedecendo pontualmente, os descoseu com prontidão. Os breves eram dois: um verde e outro branco.
Depois o ancião, voltando-se para mim, disse:
- Menino! que trazeis convosco que possais oferecer a esta menina?...
Eu corri com os olhos tudo que em mim havia e só achei (...) um lindo alfinete de camafeu, que meu pai me tinha dado para trazer ao peito e, maquinalmente, pus-lhe nas mãos o meu camafeu.
O velho quebrou o pé do alfinete e dando-o a sua mãe, acrescentou:
- Minha mãe, cosa dentro do breve branco este camafeu.
E voltando-se para minha bela camarada, continuou:
- Menina! que trazeis convosco que possais oferecer a este menino?...
A menina (...) entregou-lhe um botão de esmeralda que trazia em sua camisinha. O velho o deu à sua mãe, dizendo:
- Minha mãe, cosa esta esmeralda dentro do breve verde.
Quando as ordens do ancião foram completamente executadas, ele tomou os dois breves e, dando-me o de cor branca, disse-me:
- Tomais este breve, cuja cor exprime a candura da alma daquela menina. Ele contém o vosso camafeu: se tendes bastante força para ser constante e amar para sempre aquele belo anjo, dai-lho, a fim de que ela o guarde com desvelo.
Eu mal compreendi o que o velho queria (...) entreguei o breve à linda menina, que o prendeu no cordão de ouro que trazia ao pescoço.
Chegou a vez dela. O nosso homem deu-lhe o outro breve, dizendo:
- Tomai este breve, cuja cor exprime as esperanças do coração daquele menino. Ele contém a vossa esmeralda: se tendes bastante força para ser constante e amar para sempre aquele bom anjo, dai-lho, a fim de que ele o guarde com desvelo.
Minha bela mulher executou a insinuação do velho com prontidão, e eu prendi o breve ao meu pescoço com uma fita que me deram.
Quando tudo isto estava feito, o velho prosseguiu ainda:
- Ide, meus meninos; crescei e sede felizes! vós olhastes para mim, pobre e miserável, e Deus olhará para vós...








Link para o livro do Joaquim Manuel de Macedo, no Domínio Público:







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