Por que "clepsidro-me"?!?!

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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

"O quarto nupcial desaparece sob montões de flores. Sobre bandejas de prata, frutos e doces estão dispostos em pirâmides. Nos queimadores colocados nos quatro cantos do aposento, o almíscar e o sândalo se consomem. No meio, ressalta-se o leito, imenso, guarnecido de cetim branco e borbotões de renda.
(...)
Há muito tempo a noiva está pronta. Apoiada em seu travesseiro ela espera. Que faz Amir?
(...)
O tempo passa. O que ela parece, sozinha nesse grande leito? Humilhada, Selma aperta os lábios: não demonstra sua confusão.
Após uma hora, finalmente, Amir aparece. Estava com sua irmã (...) que tinha um problema urgente pra resolver. Selma está ferida. Um problema urgente... provavelmente inventado em seus mínimos detalhes (...) para mostrar publicamente seu poder diante da nova esposa. (...)
- O que há, minha querida? - Amir se deteve à beira da cama. Olha sua jovem esposa com inquietude - A senhora está passando mal?
Com a cabeça enfiada nos travesseiros, Selma soluça.
- Vou chamar um médico.
- Não!
Muito vermelha, ela se ergue. Então, ele não compreende nada.
Amir hesita. Que fazer? Ela parece enfurecida. "Será que disse alguma coisa que a ofendeu? Ela parecia tão feliz durante a cerimônia! O que aconteceu?" Tem vontade de apertá-la em seus braços, consolá-la, mas não ousa: com certeza vai repeli-lo.
"... Por que ele está ali a me olhar? Estou com frio. Se ele pudesse me tomar contra ele, abraçar-me, aquecer-me..."
"Como sou imbecil!" pensa ele. "A pobre está simplesmente atemorizada. provavelmente, está pensando que vou me precipitar sobre ela, usar de meus direitos. Não compreende que a respeito. Esperarei que se habitue comigo. Tenho muito tempo."
Ele sentou-se à beira da cama.
- Essse dia foi cansativo, a senhora precisa dormir. Não a perturbarei.
Estupefata, Selma o olhou: "Está brincando? Será que ela é tão pouco desejável? Ela sonhara tanto com esse momento. "Que tola! No entanto, sabia que não era um casamento de amor: pois bem, ele lhe faz simplesmente compreender que ela não lhe agrada."
Intrepidamente, ergue os ombros e, com ar indiferente, diz:
- De fato, estou cansada. Boa noite.
Encolheu-se do outro lada da cama. Amir suspira. Esperava pelo menos um sorriso, uma palavra afetuosa, sinal de que apreciava sua delicadeza. Ele, por sua vez, estende-se suavemente para não perturbá-la. Há meses contemplava sua foto e esperava se encontrar ao lado dela. Não foi assim que imaginara sua noite de núpcias."
( Em nome da princesa morta, de Kenizé Mourad - Ed Globo, 1988, p.255/256)

Quando li esse texto, fiquei pensando em quantas vezes não vivi mal entendidos pela simples razão de não mostrar meus sentimentos. E por que às vezes resisto em mostrar o que sinto? Por que tenho medo de ser ridícula, de ser rejeitada, de passar por boba, de... de... de... São tantos os motivos! (e os medos!)
Mas todos os motivos têm, de alguma maneira, relação com o fato de me ter em alta conta, com meu orgulho (orgulho é diferente de autoestima). Sempre tento me lembrar de não me levar tão a sério.
Muito tempo antes de ler esse texto eu já havia pensado essas coisas (postei o texto porque o achei emblemático) e percebi quão desatrosos podem ser o orgulho, a necessidade de se proteger e a falta de vontade de ver o outro com olhos amorosos.
Que Deus me dê sabedoria para discernir quando estou sendo muito orgulhosa e pouco amorosa com meus queridos!

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