Ontem deu vontade de reler o Oswald de Andrade e hoje, de compartilhar uns poemas dele, do livro chamado Pau-Brasil, de 1925:
ESCAPULÁRIO
No Pão de Açúcar
De cada dia
Dai-nos Senhor
A poesia
De cada dia
3 DE MAIO
Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi
SOL
Uma vez fui a Guará
A Guaratingueta
E agora
Nesta hora de minha vida
Tenho uma vontade vadia
Como um fotógrafo
III
Granada é triste sem ti
Apesar do sol de ouro
E das rosas vermelhas
V
Que alegria teu rádio
Fiquei tão contente
Que fui à missa
Na igreja toda gente me olhava
Ando desperdiçando beleza
Longe de ti
VI
Que distância!
Não choro
Porque meus olhos ficam feios
E uns do livro Primeiro Caderno de Poesias do Aluno Oswald de Andrade, de 1927:
OFERTA
Quem sabe
Se algum dia
Traria
O elevador
Até aqui
O teu amor
AMOR
Humor
BALADA DO ESPLANADA
Ontem à noite
Eu procurei
Ver se aprendia
Como é que se fazia
Uma balada
Antes de ir
Pro meu hotel
É que este
Coração
Já se cansou
De viver só
E quer então
Morar contigo
No Esplanada
Eu qu'ria
Poder
Encher
Este papel
De versos lindos
É tão distinto
Ser menestrel
No futuro
As gerações
Que passariam
Diriam
É o hotel
Do menestrel
Pra m'inspirar
Abro a janela
Como um jornal
Vou fazer
A balada
Do Esplanada
E ficar sendo
O menestrel
Do meu hotel
Mas não há poesia
Num hotel
Mesmo sendo
'Splanada
Ou Grand-Hotel
Há poesia
Na dor
Na flor
No beija-flor
No elevador
PS: Os quadros são da Tarsila do Amaral, esposa do Oswald. Em um, que desconheço o nome (acho que não tem), ela retrata o marido e o outro chama-se Abaporu.
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